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O México terá uma mulher Presidente em 2024: sonho feminista ou mera camada de verniz sobre “machismo institucional”?

Uma mulher numa varanda de uma residência presidencial a acenar a uma multidão de eleitores não é imagem estranha na América Latina. Michelle Bachelet no Chile, Laura Chinchilla na Costa Rica, Dilma Rousseff no Brasil, tantas outras. No México, são mullheres as candidatas dos dois principais partidos às eleições de 2024. Parece um sonho feminista, mas há um lado obscurso na política mexicana e o atual Presidente não é conhecido por dar atenção aos graves problemas que afetam as mulheres

Um bordado com a frase "no se sabe o meu nome tenho entre 25 e 30 anos", feito para assinalar o protesto contra a violência sofrida por Roxana Ruiz, uma mulher indigena que foi violada e sobreviveu a femicídio
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Salvo ocorrência muito inesperada, daqui a menos de um ano, em junho de 2024, o México vai eleger uma mulher para Presidente. As pessoas escolhidas pelas duas principais forças políticas para concorrer ao cargo são mulheres, pelo que é quase certo que a principal cadeira do poder será de uma mulher.

O Movimento Regeneração Nacional (Morena), do Presidente Andrés Manuel López Obrador — impedido pela Constituição de concorrer a novo mandato —, escolheu Claudia Sheinbaum, de 61 anos e com ascendência judaica, licenciada em física e doutorada em engenharia ambiental; e a candidata da coligação opositora Frente Ampla para o México é Xóchitl Gálvez, engenheira informática e empresária do ramo da tecnologia com origens indígenas.

Sonho feminista? Podia ser, tem potencial para vir a ser. No entanto, sob uma paridade política invejável, até para padrões da Europa do Norte e Ocidental, subsiste uma cultura machista. A violência de género, incluindo o femicídio, é problema de tal forma comum que alguns analistas usam uma palavra normalmente associada a comportamentos enraizados na sociedade, como a corrupção endémica. De 427 vítimas de femícidio em 2015, o número saltou para 1004 em 2021 (mais 135%). Mais de 34 mil pessoas foram mortas no México em 2021, segundo o Índice de Paz do México (MPI) de 2022.