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A vida dentro de Nagorno-Karabakh e a recusa em receber ajuda do Azerbaijão: “Eles podem envenenar a comida, sabemos lá!”

A escassez de bens básicos gera desespero no enclave de população arménia. O Azerbaijão, que bloqueou uma via, diz-se pronto a enviar ajuda por outra, mas os habitantes da autoproclamada “República de Artsaque” não confiam em nada que venha “do inimigo”. Uma professora de inglês conta ao Expresso como é a vida numa região há mais de nove meses sem acesso ao corredor por onde entravam 90% dos produtos necessários à sobrevivência dos residentes

Uma fila à frente de uma padaria em Stepanakert, capital da Arménia. O pão é a base da alimentação mas está em severa falta desde que o bloqueio à região, imposto pelo Azerbaijão, apertou
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“A vida aqui é um inferno. Para comer só temos o que o solo vai dando. Quem não tem terreno depende de vizinhos. Os supermercados estão vazios. Só temos comido abóboras, pepinos e tomates.” O Expresso recebe por WhatsApp, da professora de inglês Tatev Martirosyan, este relato da vida em Nagorno-Karabakh, território incrustado no Azerbaijão, mas há séculos habitado por arménios.

Sucedem-se boatos de raptos e mortes, impossíveis de confirmar. Não há jornalistas na região, isolada há mais de nove meses, desde que o Azerbaijão cortou a sua única ligação ao mundo, o corredor de Lachin, por onde entravam 90% dos produtos ali consumidos.

Em resposta ao Expresso, o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão rejeita a ideia de bloqueio. Garante que o corredor foi fechado devido à “utilização abusiva e generalizada da estrada de Lachin para abastecimento e a manutenção das forças armadas arménias, que ainda não se retiraram totalmente do Azerbaijão desde o fim da guerra em 2020”.

Os arménios desmentem, dizem que é só uma desculpa para Baku continuar a apertar o território “como uma jiboia”, nas palavras de Richard Giragosian, arménio-americano que reside na capital da Arménia, Yerevan, há mais de 15 anos, e que falou com o Expresso sobre o problema.