O recinto de Cuelgamuros, na serra madrilena de Guadarrama, a pouca distância do mosteiro de São Lourenço de Escorial, deixou de ser oficialmente local de exaltação do franquismo e do regime político que vigorou em Espanha entre 1939 a 1975. É hoje o que ontem foi o Vale dos Caídos, monumento desejado e desenhado pelo ditador Francisco Franco para sua glorificação e enaltecimento pessoais, construído por presos políticos entre 1941 e 1959. A Lei da Memória Históica mudou, recentemente, a natureza daquele espaço.
Ao abrigo dessa lei, foram exumados esta segunda-feira, do túmulo ao lado do altar-mor da basílica do recinto, os restos mortais de José Antonio Primo de Rivera, fundador da Falange, partido fascista que deu cobertura ideológica à ditadura franquista. A lei manda desmantelar qualquer instalação que sirva o enaltecimento da ditadura e das suas figuras emblemáticas. Franco, também enterrado na basílica, foi exumado em 2019. O seu cadáver jaz no cemitério de El Pardo, município da regiao madrilena onde o caudilho viveu até à sua morte.
José Antonio repousa agora num mausoléu familiar no mais antigo cemitério da capital espanhola, o de São Isidro, onde também estão ou estiveram sepultadas celebridades como o pintor Francisco de Goya, a sua modelo e amante duquesa de Alba, ditadores latino-americanos como o cubano Fulgencio Batista ou o venezuelano Marcos Pérez Jiménez ou o dirigente nazi croata Ante Pavelic.
Cinco horas a desenterrar o falangista
Os trabalhos de exumação de Primo de Rivera duraram cinco horas. Foram realizados na mais estrita discrição, sem presença além da dos familiares próximos, dos monges beneditinos da basílica — que rezaram um responso — e de um representante do Património Nacional, encarregue da gestão do recinto e das instalações de Cuelgamuros.