Internacional

Sismo na Turquia: salvamentos ‘milagrosos’ incluem bebé de dois meses

O número de vítimas do sismo na Turquia ultrapassa 33 mil e a esperança encontra-se nos poucos salvamentos de quem está preso nos escombros. Entre os sobreviventes resgatados está um bebé de dois meses que esteve 107 horas subterrado

UMIT BEKTAS

Quase uma semana depois do terramoto que afetou a Turquia e a Síria, os trabalhos das equipas de resgate continuam a dar frutos. Perante o elevado número de mortes, que, de acordo com o mais recente balanço oficial, já ultrapassou os 33 mil, os casos de sobreviventes são muito reduzidos, mas não deixam de ser símbolos de esperança para as equipas de resgate e para as famílias turcas.

Até agora, foram divulgadas várias histórias de sucesso que incluem a de uma menina de 10 anos resgatada com vida depois de ter ficado 147 horas subterrada e a de um bebé de dois meses que esteve sob os escombros durante 107 horas. Contudo, equipas de resgate de vários países temem que o número de sobreviventes entre em queda com as baixas temperaturas e com o aumento de confrontos no terreno.

Uma das imagens mais marcantes da semana – e que circulou por redes sociais como o Twitter – foi a do bebé de dois meses resgatado ao fim de 107 horas. “Depois de vermos o bebé, esquecemo-nos de todo o nosso cansaço e fome. Não esperávamos que saísse vivo”, disse o paramédico Burak Özarslan, a trabalhar como voluntário no terreno há cinco dias, de acordo com o Milliyet, um jornal turco. Sobre o processo de resgate, o voluntário contou à imprensa local mais detalhes: "Uma vez que a temperatura corporal era baixa, tivemos de tomar as primeiras medidas rapidamente. Graças a Deus, entregámo-lo diretamente à instituição de saúde. A partir daí, transferimo-lo para Adana [cidade no sul da Turquia] de helicóptero. Quando saiu dos destroços, estava a chupar-me o dedo".

De Adeiamane, uma das cidades afetadas pelo sismo, chegou também a notícia de que uma menina de oito anos tinha sido retirada com vida ao fim de 151 horas presa nos escombros. Segundo o jornal turco Cumhuriyet, o nome da sobrevivente é Hacı Ahmet Eyice e foi transportada de ambulância para o hospital após ter sido retirada. Uma história semelhante aconteceu na província de Hatai, no sul da Turquia, onde uma menina de 10 anos foi resgata, seis dias depois do sismo – 147 horas debaixo dos escombros. Um vídeo divulgado pelo Município de Istambul, e partilhado pelo “The Guardian”, mostra a equipa de resgate a retirar a criança através de uma perfuração num dos edifícios que colapsaram e, seguidamente, a transportá-la de maca para um dos hospitais da região. De acordo com o jornal britânico, foram ainda retiradas desta localidade uma criança e um pai e a sua filha de cinco anos.

Ainda em Hatai, na capital Antáquia, chegou outra história de sucesso que teve como protagonistas duas irmãs, Merve, de 24 anos, e Irem, de 19. As autoridades locais foram alertadas para a situação das irmãs turcas por outros sobreviventes, diz a BBC, através de um dos seus correspondentes do Médio Oriente, que acompanhou a missão de resgate. “Não tenham medo. Acreditem que não vos vamos deixar aqui. Vamos tirar-vos e levar-vos a almoçar”, disse um dos membros da equipa de salvamento citado pelo órgão de comunicação britânico. Depois de retiradas dos escombros, as duas irmãs foram recebidas por amigos “em lágrimas”.

Também a equipa portuguesa destacada para Antáquia, composta por 52 operacionais, conseguiu resgatar uma criança de 10 anos, este sábado. “Uma alegria sem precedentes! Ao terceiro dia de missão, a Força Nacional portuguesa na Turquia resgata com vida uma criança presa nos escombros! Anos de treino, exercícios e formação... Não há melhor recompensa!", escreveu Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Administração Interna, na sua conta na rede social Twitter, numa publicação que mostra uma imagem do salvamento. José Guilherme, comandante da missão portuguesa na Turquia, disse à agência Lusa ter sido uma “emoção muito grande” depois de vários dias difíceis onde não encontraram sobreviventes. A operação de resgate durou três horas e meia e contou com a ajuda dos cães da equipa. Marcelo Rebelo de Sousa felicitou “calorosamente o comandante da Força Operacional Conjunta portuguesa”, pedindo-lhe que transmitisse a toda a equipa “a expressão de reconhecimento dos portugueses”, lê-se numa mensagem divulgada pela Presidência.

A “catástrofe” do frio

Além do número de mortos e feridos que continuam a aumentar, há outras dificuldades que complicam o trabalho das equipas de resgate e das próprias famílias de sobreviventes. Uma delas está nas baixas temperaturas que se fazem sentir nos territórios afetados pelo sismo da madrugada de segunda-feira, dia 6. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para uma “segunda catástrofe” provocada pelo frio e pela neve, que podem levar a um “agravamento” crítico das condições, tanto para as equipas de trabalho como para os sobreviventes.

"Estamos em perigo real de ver uma segunda catástrofe que pode causar danos a mais pessoas do que a catástrofe inicial, se não nos movermos com o mesmo ritmo e intensidade que estamos a fazer no lado das buscas e salvamentos", avisou Robert Holden, responsável de resposta a incidentes da OMS, durante uma conferência de imprensa em Genebra. A cidade de Alepo, na Síria, por exemplo, está a registar temperaturas mínimas que variam entre um grau e três graus abaixo de zero.