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“A UE mantém-se atraente e as crises por que passámos foram prova disso”

O Expresso entrevistou as embaixadoras francesa e alemã em Portugal, respetivamente, Hélène Farnaud-Defromont e Julia Monar. Com os seus países determinados a aprofundar a coordenação em assuntos de defesa e segurança em tempo de guerra na Europa, as diplomatas alertam para os perigos da extrema-direita e estão atentas ao desafio que a China representa

As embaixadoras francesa e alemã em Portugal, Hélène Farnaud-Defromont e Julia Monar, no Palácio de Santos, sede da representação francesa em Lisboa
Ana Brígida

No dia 22 de janeiro, passam 60 anos desde que Konrad Adenauer e Charles de Gaulle assinaram o Tratado do Eliseu, o primeiro acordo entre a Alemanha e a França, 18 anos após a II Guerra Mundial. Teve por objetivo construir um futuro conjunto. A expressão “par franco-alemão” foi usada pela primeira vez por Helmut Schmidt e Valéry Giscard d’Estaing, e subsequentes chanceleres alemães e presidentes franceses acrescentaram sentido à aliança.

No próximo domingo, um conselho de ministros franco-alemão abordará os desafios da segurança europeia, com destaque para a guerra na Ucrânia, quando a União Europeia (UE) assiste ao crescimento da extrema-direita. O Expresso conversou com as representantes em Portugal da Alemanha, Julia Monar, e de França, Hélène Farnaud-Defromont, com o Tratado em pano de fundo. O documento prevê coordenação entre os dois países para as questões de segurança e defesa.

Assinado há 60 anos, o Tratado do Eliseu prevê coordenação entre França e Alemanha nas questões de segurança e defesa. De que forma a guerra na Ucrânia influencia a sua aplicação?
HFD: É extraordinário que menos de 20 anos após a II Guerra Mundial o chanceler alemão e o Presidente francês da época tenham optado por essa coordenação estreita. Desde 1963 que há reuniões dos chefes de Estado-maior e dos ministros da Defesa. Nos anos 90 criou-se uma brigada franco-alemã, um novo passo relevante. Já em 2019, o Tratado de Aix-la-Chapelle veio atualizar o Tratado do Eliseu, com a segurança e a defesa no centro da relação entre os dois países. No próximo dia 22, um conselho de ministros franco-alemão assinala, em Paris, o 60.º aniversário do Tratado do Eliseu. Abordará questões de segurança europeia, em particular a Ucrânia. Em fevereiro do ano passado, os nossos países reagiram como as outras democracias, chocadas pela invasão. Houve 143 países a condená-la e estamos determinados a apoiar a Ucrânia até esta vencer e recuperar a sua integridade territorial. Fazemo-lo com meios humanitários, financeiros, pacotes de sanções e também meios militares, ainda que nem a França, nem a Alemanha, nem a União Europeia nem a NATO estejam em guerra com a Rússia.
JM: A coordenação franco-alemã em todas as questões de segurança e defesa é muito importante para nós, incluindo a estruturação da política de defesa europeia e a cooperação entre os nossos dois países e outros europeus. Quanto à Ucrânia, nem seria preciso o tratado. Face a uma guerra de agressão, a reação conjunta é de apoio a um país democrático que foi invadido por outro Estado e precisa da nossa ajuda. É normal que dois países como a França e a Alemanha tudo façam por estar do lado da vítima.