Internacional

Direita italiana rejeita apoiar moção de confiança a Draghi

Invocando indisponibilidade para continuar na coligação governamental juntamente com o M5S, os partidos Força Itália, de Silvio Berlusconi, e Liga, de Matteo Salvini, afirmaram que não votarão no Senado a moção de confiança em Draghi, abrindo caminho à queda do executivo

CLAUDIO PERI/Getty Images

Os partidos Força Itália e Liga, que integram a coligação de Governo italiana, rejeitaram esta quarta-feira apoiar no Senado a moção de confiança no primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, tal como já havia anunciado o Movimento Cinco Estrelas (M5S).

Invocando indisponibilidade para continuar na coligação governamental juntamente com o M5S, os partidos Força Itália (centro-direita), de Silvio Berlusconi, e Liga (extrema-direita), de Matteo Salvini, afirmaram, hoje à tarde, que não iam votar no Senado (câmara alta do parlamento) a moção de confiança em Draghi, abrindo caminho à queda do executivo.

Segundo adiantaram os porta-vozes dos dois partidos, momentos antes da votação, os seus representantes no Senado italiano decidiram abandonar o hemiciclo quando fosse votada a moção de confiança no atual primeiro-ministro, cuja demissão foi rejeitada na semana passada pelo Presidente de Itália, Sergio Mattarella.

Tal cenário confirmou-se e entre os 315 senadores que compõem o hemiciclo, 95 votaram a favor da moção e 38 contra, com a debandada dos representantes da Liga, Força Itália e M5S.

"Com amargura, mas com a consciência tranquila, não participaremos da votação", disse Anna Maria Bernini, líder do grupo parlamentar da Força Italia no Senado, antes da votação.

A Liga havia apresentado a sua própria moção ao Senado, propondo a renovação da confiança na coligação governamental, mas sem incluir o M5S (anti-sistema), mas Draghi afastou tal solução.

Draghi deixou o Senado depois de conhecer as intenções dos seus parceiros de coligação e deverá agora ter nova audiência com Mattarella.

Depois de haver repetidamente dito que só permaneceria no cargo se mantivesse amplo apoio da coligação, a consequência lógica para Draghi será a agora demissão.

Na coligação governamental, de um vasto espectro partidário que vai do centro-esquerda à extrema-direita, manifestaram apoio a Draghi o Partido Democrata, Itália Viva e o Juntos pelo Futuro, partido recém-criado pelo chefe da diplomacia, Luigi Di Maio, que deixou o M5S no final de junho e que seria acompanhado por cerca de 50 parlamentares.

O secretário-geral do Partido Democrata, Enrico Letta, que apoiou Draghi, lamentou "este dia de loucura em que o parlamento decidiu voltar-se contra a Itália" e anteviu a realização de eleições antecipadas.

"Fizemos todo o possível para evitá-lo e apoiar o governo Draghi. Os italianos mostrarão nas urnas que são mais sábios do que os seus representantes", escreveu Letta na rede social Twitter.

Durante o debate desta tarde na câmara alta, Draghi expressou a sua frustração com os partidos, alguns dos quais, por sua vez, expressaram a sua insatisfação por não verem acolhidos os seus pontos de vista.

Contudo, na abertura do debate, Draghi havia mostrado otimismo, pedindo aos partidos da sua coligação que “reconstruíssem o pacto de confiança” para salvar o Governo.

Segundo garantiu, ficou comovido pelos apelos espontâneos de italianos comuns, feitos nos últimos dias, na sequência da saída do M5S da coligação governamental, e nomeou, em particular, as posições expressas por presidentes da câmara e médicos italianos, a quem chamou os “heróis da pandemia”.

Na quinta-feira passada, Draghi apresentou a demissão, no meio de uma crise política desencadeada pela recusa do M5S de participar num voto de confiança ao executivo.

Nesse mesmo dia, o pedido de demissão de Draghi seria rejeitado pelo Presidente de Itália, Sergio Mattarella, que remeteu o assunto para o parlamento.