Internacional

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: países sem costa também participaram na Conferência dos Oceanos

Com desafios, economias e fenómenos naturais extremos a afetarem países com diferentes características geográficas, ter oceano à porta não foi requisito para a participação na conferência desta semana. “Já não é um assunto isolado para Estados costeiros”, disse um representante da UNESCO

CAITLIN OCHS/GETTY IMAGES

Num planeta de recursos interligados, os países costeiros não são os únicos intervenientes no debate sobre as ações para proteção dos oceanos. Apesar de serem uma realidade minoritária, os países sem litoral fazem parte dos problemas e, consequentemente, da solução para a “crise oceânica” mencionada pelo secretário geral das Nações Unidas (ONU) esta semana.

“As causas de alguns dos desafios dos oceanos não são apenas relacionadas com países costeiros. Relacionam-se com neutrões, plástico, emissões, acidificação... como o oceano é um elemento chave no sistema climático global, qualquer assunto oceânico e acho que esta conferência reflete isso, também com a participação de países sem litoral já não é assunto isolado para Estados costeiros”, disse esta sexta-feira o chefe da secção de ciência oceânica na UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Henrik Enevoldsen observou que “toda a população humana contribui para os desafios que o oceano está a enfrentar”. Dá como exemplos a vigilância do estado do sistema terrestre e a partilha de informação.

O papel de países rodeados por terra alarga-se à influência ambiental de comportamentos de consumo. “As nossas economias estão tão interligadas que o consumo num país sem litoral também vai ter impacto no oceano em termos de consumo de pesca, transporte de bens. Um deles é o clima e eventos extremos”, observou Julian Barbière, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental.

O especialista chama a atenção para o impacto de fenómenos naturais extremos que se formam nos oceanos, mas afetam diferentes países e continentes. “Ter boa capacidade de previsão, com base científica, sobre como esses eventos se vão desenvolver é importante tanto para países sem litoral como para costeiros”, comentou em conferência de imprensa.

Uma luta comum

Margaret Nakato, do Uganda, destaca que há desafios comuns às comunidades piscatórias de pequena dimensão de países de interior e costeiros. É coordenadora do Fundo para o Desenvolvimento das Mulheres de Katosi (KWDT, na sigla inglesa), e integra uma rede de internacional de organizações de pesca de pequena escala cujos membros pertencem tanto a países sem litoral como de áreas marinhas.

“Vemos uma exclusão crescente de comunidades piscatórias de pequena escala nas tomadas de decisão, uma [expansão] dos territórios que tiram zonas de pesca que primordiais para os seus meios de subsistência, uma destruição dos ecossistemas em que estas comunidades vivem”, lamenta Nakato. “Não podemos separar as nossas lutas”, disse, observando que a competição por turismo e setores como a exploração de gás e petróleo afetam estas comunidades de igual forma.