Internacional

Costa, Sánchez e Scholz juntos no apelo ao voto a Macron: voto em França é “pela extrema-direita ou pela Europa”

Chefes de Governo de Portugal, Espanha e Alemanha escreveram artigo conjunto no “El País”, em que pedem aos franceses para “não esquecer” quem está próximo do regime da Rússia e quem “faz eco” e replica “as ideias chauvinistas” de Putin

Cartazes de campanha de Emmanuel Macron e Marine Le Pen em Savenay, no oeste de França
LOIC VENANCE/AFP/Getty Images

É um aviso a três vozes e seis mãos: dia 24 de abril não é mais um domingo na vida da Europa, mas um dia decisivo para o futuro do continente. A segunda volta das eleições presidenciais francesas “não pode ser uma eleição comum para nós”, escrevem, num artigo de opinião conjunto publicado no diário espanhol “El País”, os primeiros-ministros de Portugal e Espanha e o chanceler da Alemanha.

“É uma eleição entre um candidato democrata, que acredita que a força de França aumenta com uma União Europeia poderosa e autónoma, e uma candidata de extrema-direita, que abertamente se põe ao lado de quem ataca a nossa liberdade e a nossa democracia.” Assim, sem nunca citar os nomes dos candidatos em disputa, os socialistas António Costa, Pedro Sánchez e Olaf Scholz fazem um apelo ao voto em Emmanuel Macron.

A relação francesa com a Rússia e o regime de Vladimir Putin marcou parte do único debate entre o atual presidente e recandidato e a adversária na segunda volta, Marine Le Pen, que se tem esforçado por atenuar a imagem de proximidade com o líder russo. É precisamente a essas relações e ao momento de crise na Europa que recorrem os três responsáveis políticos, para dizer que, em França como noutros países, “os populistas e a extrema-direita têm reivindicado Putin como modelo ideológico e político, replicando as suas ideias chauvinistas”. Esses partidos e atores “fazem eco dos seus [de Putin] ataques às minorias e à diversidade e do seu objetivo de uniformidade nacionalista”. E não importa que “estejam agora a tentar distanciar-se do agressor russo”, notam também Costa, Sánchez e Scholz, em referência à líder do Reagrupamento Nacional. “Não devemos esquecer.”

Os três chefes de Governo frisam o papel central de França na construção do projeto europeu após as duas guerras mundiais no século XX, a importância de um país que acolheu exilados políticos portugueses e espanhóis, durante as ditaduras de Salazar e Franco, e que “foi, uma e outra vez, um farol de democracia e fraternidade”. Além de breves referências históricas, o artigo cita a crise imediatamente anterior à da guerra, a da pandemia, para defender uma resposta conjunta aos problemas que se seguem.

É certo que há quem defenda que tudo “se pode fazer melhor sozinho”, como os partidários do Brexit. Mas aquilo a que se assiste no Reino Unido após a saída da União Europeia, escrevem, são “ruturas nas cadeias de transporte e abastecimento, a queda do comércio externo e, em geral, taxas de inflação mais elevadas do que as da zona euro.” Para o fim, uma pergunta: “que França sairá das urnas no dia 24 de abril?”.