O Governo espanhol negou esta terça-feira categoricamente que tenha espiado dezenas de líderes independentistas catalães, que acusaram Madrid de ter pirateado os seus telemóveis através do sistema de espionagem informática Pegasus.
A Espanha "é um país democrático e um Estado de direito, no qual não espiamos, não intercetamos conversas, não fazemos escutas telefónicas, exceto no quadro da lei", disse a porta-voz do Governo, Isabel Rodríguez, na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros semanal.
O grupo Citizens Lab, relacionado com a Universidade de Toronto (Canadá), revelou na segunda-feira que os telefones de dúzias de apoiantes independentistas da região espanhola da Catalunha, incluindo o do chefe do governo autónomo e outros dirigentes eleitos, foram espiados com o programa Pegasus acessível apenas a governos.
Segundo o grupo de investigação, foi feita uma investigação em grande escala, em colaboração com grupos da sociedade civil catalã, que apurou que pelo menos 65 pessoas foram atingidas pelo que designou de ‘spyware mercenário”, vendido por duas empresas israelitas, a NSO Group e a Candiru.
O movimento a favor da independência da Catalunha também acusou Madrid na segunda-feira de ter espiado ilegalmente dezenas dos seus líderes através da instalação do software Pegasus nos seus telemóveis, após a publicação do relatório do Citizens Lab.
De acordo com essa informação, pelo menos 65 ativistas catalães foram espiados entre 2017 e 2020.
Entre os visados estão o atual presidente regional catalão, Pere Aragonês (que era vice-presidente da região na altura), os antigos presidentes regionais Quim Torra e Artur Mas, assim como deputados europeus, deputados regionais e membros de organizações cívicas pró-independência.
O ex-presidente regional Carles Puigdemont, que fugiu para a Bélgica em outubro de 2017 para escapar à justiça espanhola após a tentativa de independência da Catalunha, não foi diretamente espiado, mas muitos dos seus familiares, incluindo a sua esposa, foram, segundo o grupo canadiano.
"O governo [espanhol] não tem nada a ver" com estas acusações e "não tem nada a esconder", insistiu Isabel Rodríguez, afirmando que o executivo "colaborará tanto quanto possível com o sistema judicial para investigar estes factos", no caso de os tribunais o solicitarem.
No verão de 2021, uma grande investigação jornalística internacional já tinha revelado que o software Pegasus tinha sido utilizado para espiar os telefones de jornalistas, políticos, ativistas e líderes empresariais em vários países.
A Catalunha é uma região do nordeste de Espanha que tem sido palco de uma crise política entre o movimento pró-independência, que controla o executivo regional, e o Governo central nos últimos anos.
Em outubro de 2017, os separatistas organizaram um referendo sobre a autodeterminação da região, apesar de esta ter sido proibida pelos tribunais, e declararam unilateralmente a independência da região.
As tensões abrandaram consideravelmente desde o reatamento em 2020 do diálogo entre o movimento pró-independência e o governo de esquerda dirigido por Pedro Sánchez, que no ano passado concedeu um indulto a nove independentistas presos em nome da "reconciliação".