O eurodeputado do Bloco de Esquerda José Gusmão recorreu ao Twitter para, mais do que justificar os votos do partido no Parlamento Europeu (PE) sobre a Ucrânia, fazer uma distinção de relevo: na votação de ontem, 1 de março, os eurodeputados do Bloco votaram a favor da condenação à invasão russa e de reconhecimento da candidatura da Ucrânia à União Europeia.
Assim é: no Parlamento Europeu, houve várias votações relativas à Ucrânia. Há duas semanas, mais concretamente a 14 de fevereiro, ainda antes da invasão militar russa, foi aprovado no PE um pacote de assistência macrofinanceira à Ucrânia, no valor de 1,2 mil milhões de euros. José Gusmão e Marisa Matias, os dois representantes do BE, abstiveram-se, juntamente com outros 41 parlamentares. Houve ainda 53 votos contra, entre os quais dois do PCP, que mostraram a diferença de sensibilidades no hemiciclo europeu.
Em declarações ao Público, Gusmão justificou essa abstenção com o facto de a assistência financeira da UE à Ucrânia existir desde 2014, a que se juntou “depois também [a] do Fundo Monetário Internacional, e [que] é basicamente um programa do tipo dos memorandos da troika”, com “conjuntos de reformas estruturais e restrições à politica económica”. Para o Bloco, a assistência à Ucrânia não deve depender do cumprimento do memorando com o FMI.
A 1 de março, a votação foi outra e os resultados bem diferentes. Ao contrário da primeira, a resolução desta terça-feira teve uma aprovação massiva: 637 votos a favor, 26 abstenções e apenas 13 votos contra (novamente incluindo 2 do PCP). Em traços gerais, esta resolução pede às instituições da União Europeia esforços para reconhecer a Ucrânia como candidata à adesão ao bloco comunitário e para sancionar mais severamente a Rússia. O Bloco de Esquerda votou favoravelmente ao conjunto da resolução, com exceção de alguns pontos (são mais de 50), que o partido considera que criam uma “corrida ao armamento”.
Com a votação de 14 de fevereiro a correr nas redes sociais logo a seguir à de ontem, Gusmão escreve que é assim que “se fazem notícias falsas”. E atirou em particular a quatro atores políticos, que fizeram menções no Twitter à votação de 14 de fevereiro nos últimos dias, incluindo ontem – foram eles Ricardo Baptista Leite (PSD), André Ventura (CH), Nuno Melo (CDS) e Rui Rocha (IL). À exceção do último, não há referências a datas.
Para o eurodeputado do Bloco, esses atores “apostam ativamente na descontextualização e na transmissão da ideia de que se trata da resposta do Bloco à guerra”. E insiste que o Bloco está a favor da assistência financeira à Ucrânia, como a resolução de ontem também pede, mas “agora sem qualquer referência a condições”. “Aliás, a assistência agora deverá (espero) ser a fundo perdido”, conclui.
O líder da bancada parlamentar do Bloco no hemiciclo português, Pedro Filipe Soares, também recorreu ao Twitter para contar que assinou um direito de resposta ao Diário de Notícias, “sobre o miserável e falso editorial de hoje”. Nele, são também confundidas as duas votações e lê-se que o Bloco de Esquerda se absteve na resolução de ontem.