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Biden ligou aos parceiros da NATO para avisar que invasão da Ucrânia pode estar por dias. E um seu conselheiro descreve como podem ser os primeiros dias de guerra

Um ataque russo à Ucrânia pode estar por dias – é esta, cada vez mais, crença dos serviços de informações norte-americanos, e por isso também do Presidente Joe Biden e dos seus conselheiros

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No início da semana, alguns analistas que falaram com a imprensa norte-americana mostraram-se convencidos que Vladimir Putin, Presidente da Rússia, estava preparado para esperar até o final dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim para evitar antagonizar o presidente Xi Jinping, da China, cada vez mais um aliado. Mas nos últimos dias os serviços de informações parecerem ter dito algo de diferente ao Presidente Biden, que começou a avisar os seus cidadãos para saírem da Ucrânia assim que possível.

Joe Biden decidiu também enviar 3000 tropas adicionais para a Polónia, escreve a agência de notícias Reuters, depois de no início de fevereiro ter destacado outros 3000 elementos do exército, quase todos estão já em solo europeu, divididos entre a Polónia, a Roménia e a Polónia, aliados dos Estados Unidos na NATO e países próximos da Ucrânia. Esta sexta-feira, o Presidente dos Estados Unidos, através de uma videoconferência, informou os parceiros europeus e outros, todos da NATO, desta nova realidade sobre a qual a sua equipa está a trabalhar: uma invasão russa é esperada para os próximos dias. Na reunião estiveram alguns dos mais importantes membros da NATO, como Reino Unido, Alemanha, Canadá, França, Itália, Polónia, Roménia, e ainda Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia e Charles Michel, presidente do Conselho Europeu.

Os Estados Unidos voltaram a repetir esta sexta-feira que os cidadãos que ainda se encontrem na Ucrania devem apressar-se a sair. Um dos principais conselheiros de Joe Biden, precisamente o que tem a pasta da Segurança Nacional, Jake Sullivan, disse esta setxa-feira, citado pela CNN que “todos os americanos devem abandonar o país o mais rapidamente possível, nas próximas 24 ou 48 horas ”. Não é possível “prever o futuro ”, disse, mas “o risco é suficientemente alto e suficientemente imediato para ser esta a prudência necessária”.

E logo a seguir explicou como é que esta guerra poderia começar. “Se um ataque russo à Ucrânia prosseguir, é provável que comece com bombardeamentos aéreos e ataques com mísseis que obviamente poderiam matar civis, sem terem em conta a nacionalidade, claro. Uma invasão terrestre subsequente obviamente envolveria o ataque de uma força maciça ”.

A Administração de Biden já tinha alertado para um rescaldo muito negro caso esta guerra chegue mesmo a acontecer: entre 25.000 a 50.000 civis podem morrer se Putin prosseguir com uma invasão militar da Ucrânia, ao que acrescentem as mortes dos membros das forças armadas da Ucrânia (estimadas entre as 5.000 e as 25.000) e as dos membros do exército russo (3.000 a 10.000). O número de deslocados e refugiados de guerra, que caminhariam para oeste e esperariam ser recebidos pelos parceiros da NATO, não se pode antecipar mas a avaliar pelas consequências da guerra em Donbass, que fez um milhão de deslocados, podemos começar a entender que uma invasão em escalada considerável poderia desencadear uma crise humanitária maior do que a da Guerra da Síria, que trouxe quase dois milhões de pessoas até à UE – um milhão das quais se estabelceram na Alemanha, com as consequências políticas que conhecemos.

A cautela com as palavras já não faz parte da ordem de trabalhos na Casa Branca, mas Sullivan quis, mesmo assim, deixar a ressalva sobre a incerteza que define este momento: “Uma decisão final ainda não foi tomada pelo Presidente Putin, mas temos um nível suficiente de preocupação com base no que vemos no terreno e no que os nossos analistas de informações captaram para que possamos enviar-vos estes avisos. E é uma mensagem urgente porque estamos numa situação urgente”.

Depois de semanas a trabalhar no sentido de acalmar a população, com o Presidente Volodymyr Zelenskyy a sublinhar o caminho diplomático ainda disponível, a Ucrânia também já está a demonstrar uma preocupação acrescida com a possibilidade de um conflito aberto com a Rússia. Esta sexta-feira, o exército emitiu um comunicado onde dizia que os separatistas apoiados pela Rússia no leste do país estão a realizar exercícios militares, para situações de “fogo real”: tanques, veículos de artilharia e blindados foram vistos a deslocarem-se dentro da província de Donbass, que foi ocupada por separatistas apoiados por Moscovo em 2014. Já há unidades do exército ucraniano em alerta máximo.

Tropas e equipamento continuam a acumular-se

Entre quarta e quinta-feira, o “New York Times” divulgou novas imagens de satélite, como já tinha feito na semana anterior, que mostram um reforço das estruturas militares russas no lado de lá da fronteira com a Ucrânia, nomeadamente na península da Crimeia, que a Rússia também anexou, e não um alívio da presença, como exigem os Estados Unidos antes de estabelecer qualquer calendário para negociar as exigências da Rússia. Captadas pela empresa de tecnologia espacial Maxar Technologies, as imagens mostram novos “campos militares” em três locais da Crimeia: há mais tropas, veículos e outros equipamentos, tanto em Novoozernoye e Slavne (perto da costa ocidental), e mais de 550 novas tendas para tropas e centenas de veículos em um aeródromo abandonado em Oktyabrskoe, perto do centro da península.