Internacional

UE diz que quer facilitar regresso de migrantes aos países de origem e Von der Leyen fala de sanções com Biden

Tensão aumenta entre a UE e Minsk. O alto representante para a Política Externa acusa o Presidente bielorrusso de usar migrantes como arma e defende a criação de corredores humanitários para que possam regressar aos países de origem. Sanções contra companhias aéreas que facilitem viagens para Minks e para as fronteiras europeias discutidas por Von der Leyen e Biden

A pressão sobre o regime de Alexander Lukashenko não tem dado frutos mas a UE endurece o discurso face ao que considera ser uma ataque híbrido contra o bloco europeu. Enquanto os embaixadores europeus negoceiam um novo pacote de sanções para pressionar Mink, a presidente da Comissão Europeia levou o assunto à reunião desta quarta-feira na Casa Branca.

No final do encontro com o presidente norte-americano, Ursula von der Leyen adiantou que ambos concordaram em "olhar para a possibilidade de sancionar as companhias aéreas que facilitem o tráfico de seres humanos para Minsk e para as fronteiras europeias". As novas medidas restritivas tentam visar todos os que de alguma forma contribuem para o esquema patrocinado pelo governo bielorrusso e que passa por empurrar migrantes para as fronteiras europeias criando uma crise humana, migratória e geopolítica.

O Executivo comunitário esteve esta semana em contacto com a organização que junta companhias aéreas árabes. Muitos dos migrantes que estão agora às portas da Polónia, Letónia e Lituânia viajaram para a Bielorrússia a partir da Jordânia, do Líbano e do Dubai, com Istambul a servir como um dos pontos de trânsito.

O vice-presidente da Comissão, Margaritis Schinas, não revela o que ouviu das companhias mas no Twitter escreve que teve com elas uma "conversa honesta" para lhes explicar que "ninguém se deve deixar envolver nas práticas inaceitáveis das autoridades" da Bielorrússia. "Contamos agora com o esforço proativo das companhias aéreas", afirmou ainda.

Nos próximos dias, Schinas vai também visitar vários países para tentar travar o problema na origem, evitando que chegue às fronteiras europeias. Deverá passar por Abu Dhabi, Beirut, entre outras cidades, e ainda por Ancara. O objetivo é tentar alcançar um entendimento com as autoridades de países de origem e trânsito para uma cooperação que trave o fluxo de migrantes. A estratégia foi usada com o Iraque em julho - foram muitos os iraquianos que tentaram entrar na UE através da Bielorrússia - e deu resultados, com Bagdad a ajudar a travar os voos para Minsk.

Este tipo de cooperação foi discutida na reunião entre Von der Leyen e Biden, com a alemã a afirmar que UE e EUA concordaram em "coordenar a abordagem aos países de origem, para que garantam que seus cidadãos não caem na armadilha do regime de Lukashenko".

Horas antes, no Parlamento Europeu, também o Alto Representante da UE para a Política Externa defendia que é preciso "fazer acordos com os países de origem para que os migrantes possam regressar de forma segura". O Serviço Europeu de Ação Externa está atualmente em contacto com 13 países terceiros.

Perante os eurodeputados, Josep Borrell defendeu ainda a criação de "um corredor humanitário" para que os milhares que estão às portas da UE possam voltar a casa. "Não podem entrar na União Europeia forçando as fronteiras mas também não podem ficar ali", afirmou, defendendo uma estratégia para desencorajar quem queira tentar entrar ilegalmente na UE através da Bielorrússia.

"Este é um ataque híbrido, de um regime autoritário, com a intenção de nos destabilizar mas não vai conseguir", afirmou ainda Von der Leyen. No entanto, a presidente da Comissão Europeia reconhece que a situação nas fronteiras é grave, com milhares encurralados sem conseguir entrar na Polónia, Lituânia e Letónia e sem conseguir voltar a trás.

"É importante que as agências das Nações Unidas tenham acesso aos migrantes e pessoas inocentes que estão numa situação muito difícil na Bielorrússia", diz a presidente. Já Borrell vai mais longe e explica que como a maioria está do lado bielorrusso, a pressão deve ser feita sobre o regime de Mink. "A primeira coisa que teremos de fazer é (pressionar) para que o governo bielorrusso permita que as organizações de ajuda humanitária cheguem a estas pessoas para evitar imagens como as que nos têm inquietado". "Esta é uma crise severa. Não é uma guerra, mas é um ataque e uma utilização de seres humanos como armas", afirmou ainda durante o debate no Parlamento Europeu.

Os eurodeputados alertaram para a deterioração da situação humanitária na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, com centenas, senão milhares, expostos às condições meteorológicas do inverno. Foi forte a condenação às táticas de Minsk mas houve também recados para as autoridades polacas para que parem de empurrar migrantes para a Bielorrússia e aceitem a assistência das agências da UE no tratamento da situação humanitária.