Internacional

Primeiros-ministros da Eslovénia e Países Baixos trocam acusações no Twitter

Uma acesa troca de críticas e provocações envolve primeiros-ministros, os presidentes do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu e vários eurodeputados. Um episódio inédito exibido na rede social, focado no primeiro-ministro esloveno, com ameaças à liberdade de imprensa no país. Irá a polémica transbordar para o Conselho Europeu de quinta-feira?

Os chefes de governo da Eslovénia, Janez Jansa, e dos Países Baixos, Mark Rutte, numa cimeira sobre os balcãs em Liubliana
JURE MAKOVEC/AFP/Getty Images

O primeiro-ministro esloveno, Janez Jansa, é conhecido por não ter filtro na rede social Twitter. Seguindo o estilo do ex-Presidente americano Donald Trump, são várias as mensagens em que critica e ataca aqueles de quem discorda, a começar pelos jornalistas, eslovenos e não só. Desta vez, não poupou o primeiro-ministro holandês.

“Mark, não percas tempo com embaixadores e com a liberdade de imprensa na Eslovénia. Devias era proteger os teus jornalistas de serem mortos nas ruas”, diz Jansa num tweet de resposta a Mark Rutte.

Para se perceber a novela é preciso recuar a uma iniciativa do Parlamento Europeu, que decidiu enviar uma delegação da comissão parlamentar de Liberdades Cívicas à Eslovénia para investigar as ameaças à liberdade de imprensa. Jansa não quis encontrar-se com os eurodeputados e a bancada dos Socialistas e Democratas (S&D, centro-esquerda) decidiu tweetar uma crítica “à cadeira vazia” do primeiro-ministro da Eslovénia, que tem a presidência rotativa da UE até ao fim de 2021.

Jansa não gostou e, como é seu hábito, não só não engoliu em seco como subiu de tom. Na resposta, na mesma rede social, questionou: “Mas quem são vocês? Quantas vezes visitaram a chancelaria alemã, o primeiro-ministro holandês ou o Presidente francês? Já agora, o último jornalista assassinado na UE foi nos Países Baixos”.

Só que Rutte também não gostou de ser envolvido na discussão e não só transmitiu o desagrado ao embaixador esloveno nos Países Baixos, como foi ao Twitter dizer que as palavras de Jansa sobre os eurodeputados eram “de mau gosto” e que condenava “fortemente a atitude” do homólogo esloveno. Só que mais uma vez Jansa não se ficou e voltou a responder, agora, dirigindo-se a “Mark” e subindo de novo o tom.

Desta vez, Rutte deixou-o a falar sozinho, mas os dois vão estar cara a cara na cimeira de quinta e sexta-feira. Antes de lá chegarem, o presidente do Conselho Europeu tenta pôr ordem na sala e no Twitter: “O respeito mútuo entre as instituições da UE e no seio do Conselho Europeu é o único caminho a seguir”, escreve Charles Michel. Não identifica nenhum dos governantes, mas o recado está dado. O belga não quer que o problema derrape para a reunião de chefes de Estado e de Governo.

Ainda assim, Michel não resistiu a deixar uma crítica a Jansa, de forma diplomática e indireta. Recorda-lhe que “os membros do Parlamento Europeu devem poder fazer o seu trabalho livremente, sem qualquer pressão”. O episódio tem tanto de insólito como de inédito, pelo novelo de respostas e contra-respostas que gerou, a envolver governantes e também as instituições europeias, numa clara confrontação dentro da UE.

Foi uma longa troca de mimos agressivos entre o primeiro-ministro esloveno e vários eurodeputados, com os socialistas europeus a fazerem-lhe acusações de manipulação. Jansa devolve as críticas, num braço-de-ferro que tem leituras políticas internas. A eurodeputada Tanja Fajon (S&D) é líder do Partido Social Democrata na Eslovénia, na oposição, e há quem a aponte como possível próxima primeira-ministra. Outro alvo de eleição de Jansa foi a eurodeputada liberal holandesa Sophia In‘T Veld.

O nível e número de ataques levou o Presidente do Parlamento Europeu a tentar travar a avalanche e a chamar Jansa à razão. “Apelamos a que pare com as provocações”, escreveu no Twitter. “Os ataques aos eurodeputados são ataques aos cidadãos europeus”, alertou David Sassoli. Não foi bem-sucedido e a resposta não tardou: “A Eslovénia não é uma colónia”. O primeiro-ministro esloveno ficou com a última palavra (ou a falar sozinho).

Têm sido várias as polémicas a envolver Jansa. Desde que tomou posse, vários episódios levantam dúvidas sobre o respeito pelo Estado de Direito e a liberdade de imprensa na Eslovénia. São os casos do corte de fundos e do manietar da Agência de Notícias Eslovena, mas também o facto de o país — e o Governo — ter travado a nomeação dos procuradores-delegados eslovenos para a nova Procuradoria Europeia, o que lhe tem valido duras críticas da procuradora-geral, Laura Kovesi.