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“Fizemos as coisas bem porque fizemo-las à maneira europeia”: o Estado da União segundo Ursula von der Leyen

A Presidente da Comissão Europeia fez esta quarta-feira, em Estrasburgo, um discurso sobre o trabalho da UE durante o último ano de pandemia. O balanço é positivo - a Europa ganhou uma "alma forte" a combater o vírus - e os desafios para o próximo ano são "ambiciosos": atacar as alterações climáticas (com mais dinheiro), desenvolver o digital (produzindo mais chips semicondutores) e reorganizar a saúde europeia (para evitar novas pandemias)

KENZO TRIBOUILLARD/Getty Images

"Fizemos as coisas bem porque fizemo-las à maneira europeia". Foi com esta frase que Ursula von der Leyen justificou as conquistas da União Europeia (UE) durante o último ano de pandemia: tratou-se de uma União "com uma alma forte", sublinhou.

No Discurso do Estado da União, esta quarta-feira em Estrasburgo, a Presidente da Comissão Europeia apontou os êxitos do último ano, a começar pelo processo de vacinação nos estados-membros.

Além de lembrar que a UE foi a única região do mundo a partilhar vacinas com outros continentes, von der Leyen também anunciou que a Comissão Europeia vai distribuir 200 milhões de vacinas para países com baixas taxas de vacinação. A responsável também prometeu investir mil milhões de euros na produção de vacinas mRNA no continente africano.

A presidente da Comissão Europeia também não quer novas pandemias e, por isso, garantiu que até 2027 será feito um investimento de 50 mil milhões de euros para reorganizar e melhorar a saúde europeia conjunta dos 27 Estados-Membros: a nova autoridade médica europeia chama-se HERA, ou Health Emergency Preparedness and Response Agency, e estará a funcionar a 100% em 2022.

Quanto ao futuro, os desafios são "ambiciosos". O discurso focou-se em vários pontos, a começar pela recuperação económica: “Esperamos que 19 países da UE estejam em níveis pré-pandemia já este ano”, disse a responsável, apontando que o crescimento na zona euro no último semestre foi superior ao registado pela China e pelos EUA.

Neste tópico, von der Leyen apontou um objetivo crucial da Europa: deixar de ser dependente da Ásia na produção de chips semicondutores, essenciais para o funcionamento de inúmeros produtos tecnológicos. “Vamos ser audazes outra vez e focar todas as nossas forças nos semicondutores”, pediu.

Depois, o combate às alterações climáticas: “Podemos fazer algo para resolver o problema”, garantiu. Ao mesmo tempo, anunciou que a Europa vai adjudicar mais 4 mil milhões de euros para ajudar países em vias de desenvolvimento a lutar contra os efeitos das alterações climáticas. "Vamos limpar a energia que usamos e colocar um preço na poluição", prometeu.

A importância da juventude e uma Defesa europeia mais forte

Esta mão europeia, nas palavras de von der Leyen, chegou também aos países europeus que estão fora da UE, como Albânia ou Macedónia do Norte: "O investimento no futuro dos países dos Balcãs é um investimento no futuro da UE", disse.

Depois do piscar de olho, o clima outra vez: "Se não confiamos nos nossos olhos, temos de seguir a ciência”, acrescentou, lembrando a “ansiedade” que este problema está a causar nas gerações mais novas. A juventude foi, aliás, um foco importante do discurso: Ursula von der Leyen lembrou que a covid-19 retirou um “tempo que não podemos devolver aos jovens”, agradecendo a solidariedade que demonstraram e sobretudo a defesa das causas ambientais. “A nossa união será mais forte se for mais como a próxima geração”, garantiu.

O discurso passou também pela importância da cibersegurança no mundo atual, com Von der Leyen a pedir mais legislação e políticas comuns entre todos os países. Daí, focou-se na defesa: a UE precisa de ter mais e melhores serviços de inteligência, é necessária mais cooperação entre os serviços dos Estados-Membros, e talvez valha a pena introduzir medidas que incentivem a UE a proteger-se de ameaças exteriores - como a redução do IVA na compra de armamento fabricado na Europa, sugeriu. De qualquer forma, haverá uma Cimeira de Defesa no próximo ano, disse a responsável.

A responsável aproveitou para deixar uma palavra de "solidariedade" ao povo do Afeganistão, país agora sob o controlo dos talibãs, lembrando que a Europa deve estar mais capacitada para atuar em cenários semelhantes, e prometendo uma verba de 100 milhões de euros em ajuda humanitária para o país. E daí surgem os direitos humanos: "Vamos propor a proibição no nosso mercado de todos os produtos que sejam feitos com recurso a trabalho forçado, porque os direitos humanos não estão à venda por nenhum preço", disse aos eurodeputados, dado que a globalização "não pode ser feita às custas da dignidade e da liberdade das pessoas."

Sobre este tema, von der Leyen lamentou a "lentidão dolorosa" com que o novo Pacto de Migração e Asilo está a ser olhado por representantes de vários países. "No final de contas. isto tem que ver com uma questão de confiança", disse, lamentando que haja Estados-Membros a usar os migrantes como arma de arremesso político.