Internacional

Reino Unido vai exigir certificado de vacinação para eventos com muita gente em locais fechados. “O teste não vai ser suficiente”, diz Boris

Primeiro-ministro do Reino Unido deu uma conferência de imprensa na qual foi pressionado a explicar todos os perigos (e o que está o Governo a fazer para os antecipar) desta nova fase de desconfinamento - em que quase todas as restrições desaparecem. Os casos estão a subir com rapidez

Andrew Aitchison/Getty Images

Vai ser obrigatório apresentar um certificado com a prova de vacinação completa para aceder a eventos com muita gente em locais fechados - como, por exemplo, discotecas -, anunciou esta segunda-feira o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, numa conferência de imprensa em que teve de enfrentar duras perguntas, não só de jornalistas mas também de cidadãos, sobre a “experiência” de abrir totalmente a economia, algo que 1.200 cientistas em todo o mundo já criticaram, numa carta aberta, publicada há duas semanas na revista científica “Lancet”.

Inversão de marcha em menos de 18 horas

Johnson disse que este certificado é “uma tentativa de aumentar a aceitação da vacina entre os jovens”, que esta madrugada se reuniram em vários espaços noturnos um pouco por todo o país para dar início ao chamado ‘Freedom Day’, o primeiro dia em quase meio ano em que foi possível dançar numa discoteca sem qualquer condicionamento. "O teste vai deixar de ser suficiente", acrescentou o governante, depois de questionado mais uma vez sobre a medida.

Isto porque entre os deputados do seu partido, o Partido Conservador, há uma fatia considerável que se opõe à emissão destes certificados já que são vistos por uma ala mais libertária como uma imposição à liberdade das pessoas que podem escolher vacinar-se ou não. "Alguns dos maiores prazeres e oportunidades da vida vão estar progressivamente mais dependentes da vacinação", completou o governante. Em fevereiro tinha dito que estes "passes" poderiam ser discriminatórios.

Depois das imagens que começaram a surgir esta manhã de discotecas completamente cheias e grandes aglomerados de pessoas em filas para entrar em vários eventos noturnos, Johnson foi obrigado a rever as normas - sem nunca voltar atrás na decisão de abrir por completo todos os setores da economia.

"É verdade que temos mais e mais pessoas em isolamento e há os que gostariam que tivessemos esperado mais dias, mais semanas, para dar este passo, que continuássemos com restrições ao nosso dia a dia mas considero que devemos abrir agora enquanto temos uma vantagem contra o vírus, se abrissemos no inverno seria pior, que é quando o vírus tem vantagem", disse o primeiro-ministro.

A pandemia "ping"

Johnson atacava aqui uma das principais críticas que têm sido feitas ao seu mapa para a reabertura: toda a gente que tenha estado em contacto com um infectado, mesmo que esteja totalmente vacinado, recebe uma mensagem do Serviço Nacional de Saúde Britânico (através de uma aplicação) a avisar que deve ir para isolamento. Ora as queixas de restaurantes, lojas, serviços públicos e todos os outros setores com grande movimentação de trabalhadores já se queixaram de que o sistema tem levado muitos estabelecimentos a fechar as portas nos últimos dias por falta de pessoal. É a pandemia "ping", o som associado aos alerta de mensagem nos telemóveis.

A queixa está registada, Johnson disse várias vezes que entende "a frustração" com as regras, mas a medida só vai mudar a meio de agosto. Agora apenas os trabalhadores essenciais que sejam enviados para casa pela aplicação podem escapar à quarentena, mediante teste negativo. Depois de 16 de agosto, essa possibilidade passa a estar disponível a toda a gente com a vacinação completa.

Depois das primeiras notas, Johnson passou a palavra aos cientistas que têm aconselhado o governo e o primeiro a falar foi Patrick Vallance, o principal conselheiro em matéria de saúde pública do Governo. Munido de quadros, números e gráficos, como sempre, Vallance explicou que “as mortes podem ultrapassar as 100 por dia”, um número assustador quando tudo está a voltar a abrir, e mostrou que os casos registados no período crítico do inverno e aqueles que estão a ser registados agora formam uma linha quase coincidente.

Os dados mais importantes, porém, referem-se ao número de pessoas hospitalizadas e ao número de mortes, dois quadros de facto muito diferentes dos referentes ao outono e inverno de 2020. Em vários dias de janeiro, o Reino Unido registou mais de 1000 mortes diárias.

60% das pessoas que dão entrada no hospital têm as duas vacinas

Mais um número que pode custar a ler - se não tivermos o auxiliar do enquadramento dos especialistas. Questionado sobre a porcentagem de pessoas que estão a dar entrada nos hospitais com uma, duas ou nenhuma dose da vacina, Patrick Vallance avançou que cerca de 60% do total de admissões é de pessoas que já levaram as duas doses da vacina, o que Vallance explica com duas conclusões: primeiro há “imensa gente já vacinada” e por isso é “natural que a maioria das pessoas que chega aos hospitais esteja duplamente vacina” e “as vacinas não têm 100% de eficácia na prevenção de doença grave”. “Quando todos ou quase todos os maiores de idade estiverem vacinados então podemos esperar que todos aqueles que derem entrada num hospital sejam portadores das duas doses da vacina”, completou.

Jonathan Van-Tam, vice-diretor geral da Saúde, foi questionado sobre a possibilidade de que as restrições possam voltar e não afastou totalmente esse cenário. “Sabemos que o impacto destas festas que vimos ontem só serão de facto conhecidos daqui a sensivelmente 10 dias e depois são outros sete ou 10 dias para que isso se reflita nos internamentos. Também sabemos que é nos sítios fechados que reside o maior problema”, disse Van-Tam, sublinhando que o sistema não está perto do colapso, como na vaga de janeiro deste ano.