O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse esta quinta-feira que espera "a solidariedade mais firme e mais absoluta" de todos os Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) relativamente a Moçambique, pela situação em Cabo Delgado.
"Eu espero a solidariedade mais firme e mais absoluta de todos os países da CPLP a Moçambique no esforço que o país está a ter para garantir a vida e a segurança da sua população que vive em Cabo Delgado", afirmou Augusto Santos Silva, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, em vésperas da XIII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, que se realiza em Luanda na sexta-feira e no sábado.
Questionado sobre um reforço da cooperação multilateral, no âmbito da CPLP, o chefe da diplomacia portuguesa foi mais cauteloso. "Da CPLP, acho que há um apoio de natureza política, muito importante, que esse está, na minha opinião, garantido. Depois vamos ver o que é que Moçambique vai dizer na cimeira. Quais são as novas possibilidades", sublinhou.
Mas a CPLP "não é uma organização que tenha a tradição de, por exemplo, organizar operações de natureza militar, mesmo que não sejam executivas. Portanto, cada organização, com as suas características, acrescenta o seu valor na cena internacional", acrescentou.
"Vamos ver. Mais uma vez nós temos de ir com um sentido pragmático" quanto ao que possa sair da próxima cimeira relativamente a apoios a Moçambique, para enfrentar a situação de violência que afeta sobretudo a província de Cabo Delgado, disse.
Porém, Santos Silva lembrou que já há apoios bilaterais a Moçambique no terreno, dando como exemplo o que está a ser feito por Portugal na área da formação de militares moçambicanos.
Além disso, o ministro salientou que há missões de outros países em curso ou em preparação, bem como de organizações, como é o caso da União Europeia e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), a que Moçambique pertence.
Na segunda-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE aprovaram o lançamento de uma missão de formação militar em Moçambique que visa "treinar e apoiar as Forças Armadas moçambicanas" no "restabelecimento da segurança" no território e que será chefiada no terreno pelo brigadeiro-general do Exército português Nuno Lemos Pires.
"O objetivo desta missão é de treinar e apoiar as Forças Armadas de Moçambique na proteção da população civil e no restabelecimento da segurança na província de Cabo Delgado", lê-se num comunicado publicado pelo Conselho da União Europeia (UE).
Esta decisão do bloco comunitário é "a resposta da UE ao pedido das autoridades moçambicanas para um empenhamento reforçado da UE nas áreas da paz e segurança", depois de no dia 3 de junho o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ter apelado ao envio de "uma missão não executiva de formação militar da UE para a Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD) no país".
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2800 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 732.000 deslocados, de acordo com a ONU.
Na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, Angola assumirá a presidência rotativa da organização, sucedendo à presidência cabo-verdiana.
O lema da presidência de Angola será "Construir e fortalecer um Futuro Comum e Sustentável".
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP.