Internacional

Margrethe Vestager: “Quando não se tem acesso à Internet ou as escolas não têm os equipamento necessários há uma espécie de pobreza digital”

Bruxelas definiu metas para a transição digital, propondo que se passe de 7,8 para 20 milhões de especialistas na UE em tecnologias de informação até 2030. Para reduzir a dependência tecnológica europeia face a outros mercados, a UE quer ser responsável por 20% da produção mundial de semicondutores daqui a nove anos, face aos 10% atuais

A comissária europeia Margareth Vestager congratulou o governo português depois da deliberação do Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço
YVES HERMAN

“A pandemia mostrou que temos ainda uma espécie de fosso digital e que há uma espécie de pobreza digital quando não se tem acesso à Internet ou quando há escolas sem os equipamentos necessários”, afirmou esta terça-feira Margrethe Vestager na apresentação das metas de Bruxelas para 2030 quanto à transição da União Europeia (UE) para o digital.

A vice-presidente da Comissão Europeia deixou claro que não se trata de apresentar um novo pacote de fundos mas de se transformar as promessas “em algo real e tangível”. “Já temos muito dinheiro disponível”, disse, recordando os diferentes instrumentos financeiros já existentes e o que virá do Mecanismo de Recuperação e Resiliência. Todos os estados-membros acordaram aplicar pelo menos 20% dos fundos deste instrumento na transformação digital.

A responsável explicou que o que se pretende é replicar a filosofia já implementada, por exemplo, para as alterações climáticas: estabelecer metas e depois “ver o que é preciso fazer em cada ano para lá chegar”, explicou.

As grandes metas da estratégia de transição para o digital, agrupadas neste ‘2030 Digital Compass’ divulgado esta terça-feira são quatro: reforçar as qualificações digitais e o volume de mão-de-obra europeia especializada em tecnologias da informação; ter infraestruturas digitais seguras, eficazes e sustentáveis; promover a transformação digital dos negócios; e digitalizar os serviços públicos.

Traduzindo em números, Bruxelas tem por objetivo conseguir que, em 2030, “pelo menos 80% dos adultos” na UE tenham, pelo menos, competências digitais básicas e que existam pelo menos 20 milhões especialistas em tecnologias da informação no mercado de trabalho, por comparação aos 7,8 milhões existentes em 2019. Isto porque falta pessoal com qualificações nestas áreas.

Em segundo lugar, a Comissão Europeia propõe que todas as famílias na UE tenham, em 2030, conectividade ‘gigabit’ - que permite a transmissão de dados a maior velocidade - e que todas as áreas mais densamente povoadas tenham cobertura 5G. Vestager lembrou que atualmente “apenas 15% está coberto por 5G”.

Bruxelas pretende também que, daqui a nove anos, a UE já assegure 20% da produção mundial de semicondutores (face aos 10% em 2020) e possua o seu primeiro computador quântico em 2025. Estes computadores têm uma capacidade de funcionamento e resolução de problemas muito maior do que a dos normais, nomeadamente em áreas como a inteligência artificial, desenvolvimento de medicamentos, entre outras. A UE quer ter soberania digital e reduzir a dependência tecnológica face a terceiros, nomeadamente da China.

Para a digitalização do tecido empresarial, Bruxelas pretende que três em cada quatro empresas tenham infraestruturas tecnológicas que permitam operar em nuvem, o processamento de grandes volumes de dados (‘big data’) e o recurso à inteligência artificial. E que mais de 90% das PME atinjam, pelo menos, um nível básico de “intensidade digital”.

“Atualmente, e sendo generosos, podemos dizer que 15% das PME são digitais. Talvez tenham uma homepage e talvez façam alguma coisa mas não repensaram mesmo os seus modelos de negócio para refletir o novo mundo em que vivem”, sublinhou a vice-presidente da Comissão Europeia.

Já a digitalização dos serviços públicos passará por garantir que, até 2030, todos os serviços públicos essenciais nos diferentes estados-membros estejam disponíveis online, que todos os cidadãos possam ter acesso aos seus registos médicos online e que 80% dos mesmos utilizem uma solução de identificação digital.

A transformação digital é, juntamente com a chamada ‘transição verde’, um dos pilares do ‘NextGenerationEU’, instrumento criado para impulsionar a recuperação da União Europeia no período pós-covid. A proposta da Comissão Europeia terá ainda de ser sujeita à aprovação dos estados-membros e do Parlamento Europeu para que possa, então, ser implementada.