Internacional

“Não importa quantas mulheres temos na liderança enquanto continuarem sobrerrepresentadas no desemprego e no trabalho mal pago”

No Dia Internacional da Mulher, Jacinda Arden, Kamala Harris, Christine Lagarde e Ursula von der Leyen defenderam que a pandemia veio pôr ainda mais “a nu“ as desigualdades entre homens e mulheres. Para a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, a atual crise global “pode pôr em causa os progressos feitos em relação à igualdade de género”

Jacinda Ardern
PRAVEEN MENON/REUTERS

Quatro importantes líderes mundiais aproveitaram o Dia Internacional da Mulher para defender o tanto que ainda falta fazer, mesmo no mundo desenvolvido, pela igualdade de género. Jacinda Arden, Kamala Harris, Christine Lagarde e Ursula von der Leyen sublinharam esta segunda-feira que a pandemia apenas trouxe à tona uma realidade que teima em não mudar: a de que as mulheres são ainda, e em média, pior remuneradas que os homens, têm maiores obstáculos à progressão na carreira e chegada a cargos de topo, estão sobrecarregadas nas famílias e são as grandes vítimas da violência doméstica.

Em declarações feitas no Parlamento Europeu, a propósito das celebrações deste dia 8 de março, a primeira-ministra da Nova Zelândia fez mesmo questão de dizer que “não importa quantas mulheres temos nas lideranças enquanto as mulheres continuarem sobrerrepresentadas na perda de empregos, no trabalho mal pago e nas estatísticas da violência doméstica”. “Essa é a verdadeira medida sobre se fizemos ou não progressos e se temos ou não igualdade entre homens e mulheres.”

Num artigo de opinião no jornal ‘L’Echo’, também a presidente do Banco Central Europeu falou a propósito do Dia Internacional da Mulher para dizer que este contexto mais difícil pré-existente faz com que sejam também as mulheres mais penalizadas pelos efeitos da pandemia. “As repercussões sociais e económicas afetam sobretudo as mulheres, sobrerrepresentadas nos sectores mais afetados pelo coronavírus e onde mais frequentemente ocupam os empregos informais”, disse Christine Lagarde. O atual cenário de crise pode mesmo, para esta responsável, “pôr em causa os progressos feitos em relação à igualdade de género”.

“A crise pandémica global com que nos deparamos veio mostrar claramente tanto os contributos das mulheres como os desafios que ainda enfrentam. O mundo ainda não funciona para as mulheres como devia”, disse, por seu turno, a vice-presidente dos EUA, também no Parlamento Europeu. Para Kamala Harris, “a covid-19 veio ameaçar a saúde, a segurança económica e a segurança física das mulheres em todo o mundo”.

Já a presidente da Comissão Europeia veio admitir que, na UE, as mulheres não têm ainda igualdade de oportunidades, continuando a ter de “trabalhar duas vezes mais para ter o mesmo reconhecimento, o mesmo salário ou a mesma posição de liderança”. “Sei quais são os obstáculos e os preconceitos”, sublinhou Ursula von der Leyen. A responsável aproveitou para referir as propostas de diretiva recentes de Bruxelas. Uma delas pretende introduzir transparência e igualdade entre homem e mulher nos salários pagos, face à atual realidade de as mulheres ganharem, em média, menos 14% do que os homens na UE. E outra para pôr fim às disparidades no acesso a um emprego. “A taxa de emprego nas mulheres é hoje de 67%. Nos homens é de 78%. Isto não é aceitável”, disse Von der Leyen.

Lagarde lembrou, por outro lado, que a pandemia mostrou que, nas situações em que foram as mulheres que tiveram de continuar na linha da frente, sem a hipótese do teletrabalho, “os parceiros também souberam assumir” esse lugar. Esta “rutura face às normas tradicionais deverá perdurar, permitindo que as mulheres possam ir atrás das suas ambições fora da família”. “Nenhum homem nem nenhuma mulher deve ter de escolher entre ter uma carreira ou ser pai ou mãe. Temos de mostrar a todas as crianças que não existem limites quanto a quem pode liderar ou ocupar posições de poder, independentemente do género ou da cor da pele”, acrescentou Von der Leyen.

A propósito do tema da violência doméstica, a primeira-ministra neozelandesa referiu que “além dos efeitos diretos do vírus e do seu impacto imediato no nosso dia a dia, as mulheres têm também sido alvo da intensificação da violência doméstica, naquilo que se tem denominado ‘pandemia-sombra’ em todos os cantos do mundo”. “As medidas de confinamento vieram trazer maior sobrecarga para as mulheres em casa e o isolamento aumentou também o risco de violência”, corroborou Kamala Harris.