Abdullah Metseydi é um exilado uigur na Turquia. Há um mês, antes de adormecer, estava deitado na cama, a ler, quando o sossego foi subitamente interrompido. “Polícia! Abra a porta”, foi a ordem gritada por mais de uma dezena de agentes da autoridade, carregados de armas e vestidos com uniformes da brigada antiterrorista turca.
Abdullah acabou por ser detido e levado para um centro de deportação. O mesmo aconteceu, nos últimos meses, com aproximadamente 50 uigures, uma etnia muçulmana perseguida e reprimida na China.
Os deputados da oposição na Turquia acusam o governo de Erdogan de estar, secretamente, a “vender” — ou seja, a deportar — cidadãos uigures à China como moeda de troca para receber dezenas milhões de vacinas para a covid-19, prometidas por Pequim e que ainda não foram entregues.
Não existem provas concretas e as alegadas deportações são negadas tanto pela Turquia como pela China, mas o número de uigures detidos aumentou exponencialmente em relação ao ano passado, escreve a Associated Press.
A comunidade uigur na Turquia teme a deportação para um país do qual conseguiu fugir. Calcula-se que, nos últimos anos, mais de um milhão de uigures e elementos de outras etnias tenham sido enviados para campos de detenção na região de XinJiang, de onde saem relatos de tortura e abusos sexuais.
Há quem fale mesmo num “genocídio demográfico”. Em junho de 2020, surgiram notícias da existência de “medidas draconianas” por parte das autoridades chinesas, com o objetivo de “reduzir as taxas de natalidade entre uigures e outras minorias, no âmbito de uma ampla campanha para conter a população muçulmana”.