Internacional

Trump vai perdoar cerca de 100 crimes no último dia na Casa Branca. Haverá indulto para invasores do Capitólio?

Indulto no último dia de mandato é tradição presidencial nos EUA, e este ano vai servir para perdoar uma centena de crimes, incluindo de rappers famosos. Já há um mercado de alto valor para pressionar Trump, com pedidos de perdão vindos de toda a parte. Até de quem esteve presente no “maior ataque à democracia norte-americana”: o assalto ao Capitólio
Drew Angerer

Esta terça-feira, 19 de janeiro, é o último dia completo que Donald Trump vai passar na cadeira da presidência dos Estados Unidos da América. E não servirá apenas para cumprir calendário: o chefe de Estado cessante vai dar luz verde a mais de uma centena de pedidos de indulto.

Segundo a imprensa norte-americana, nomeadamente a CNN, que cita fontes próximas de Trump, a lista de crimes a perdoar foi elaborada numa reunião no último domingo e inclui criminosos de colarinho branco e até rappers famosos. Porém, não foram adiantados quaisquer nomes.

A prática de emitir perdões no último dia do mandato faz parte da tradição presidencial. Barack Obama perdoou ou encurtou sentenças de 330 indivíduos, um número recorde, bem superior ao que tinha deixado o antecessor, George W. Bush. Aliás, o ex-Presidente, eleito pelo Partido Republicano, escreveu nas suas memórias (no livro “Decision Points”) que uma das grandes surpresas da sua presidência foi “a enxurrada de pedidos de perdão no final”. Bush conta que não queria acreditar na quantidade de pessoas que o “puxaram para o lado para sugerir que um amigo ou ex-colega merecia um perdão”.

O mesmo estará a acontecer com Donald Trump, mas envolvendo mais do que apenas um favor. Este domingo, o New York Times contava que há já um lucrativo mercado de indultos a funcionar, que faz com que alguns aliados do ainda Presidente cobrem elevados valores a homens e mulheres condenados em troca de pressão para que as sentenças sejam anuladas.

Os últimos meses têm sido pródigos em perdões por parte de Donald Trump. Na página do Departamento de Justiça dos EUA é possível ver todos os indultos concedidos durante o mandato de quatro anos: só entre novembro e dezembro foram 41.

Um deles foi George Papadopoulos, antigo conselheiro de política externa de Donald Trump e um dos primeiros visados na investigação do procurador especial Robert Mueller à interferência russa nas eleições de 2016. Outro foi Paul Manafort, antigo diretor de campanha de Trump, condenado em março de 2019 por crimes financeiros descobertos na mesma investigação.

O ainda Presidente já mostrou intenções de perdoar-se a si mesmo, mas não estará incluído na lista de indultos a apresentar esta terça-feira. É, pelo menos, o que citam as mesmas fontes ouvidas pela CNN.

PERDÃO A INVASORES?

Quase três semanas após o cerco ao Capitólio, em Washington, as revelações de alguns invasores podem tornar ainda mais complicados os últimos dias de Donald Trump na presidência. E os seguintes.

Uma das pessoas que veio publicamente pedir o perdão da Casa Branca é Jenna Ryan, uma agente imobiliária milionária, que no dia 5 de janeiro, na véspera do assalto à sede do poder legislativo norte-americano, publicou nas redes sociais fotografias num jato privado a caminho de Washington. “Aqui vou para lutar por liberdade”, com a #marchaportrump.

No momento da invasão, Ryan não se coibiu de publicar mais fotografias e vídeos.

Detida pelo FBI, que a acusa de conduta desordeira, Ryan regressou ao Texas, de onde falou à CBS: “Só quero que as pessoas saibam que sou uma pessoa normal. Que ouvi o meu Presidente, que me disse para ir ao Capitólio”, atirou.

Jenna Ryan defendeu que queria “exibir patriotismo” e que apenas protestou, sem violência. Não é, porém, o entendimento do FBI, que, cita a imprensa, escreveu. “Digno de nota é uma imagem que Ryan postou dela mesma na sua conta do Twitter, que mostra Ryan em frente a uma janela partida no edifício do Capitólio dos Estados Unidos, com a legenda 'Janela na capital’ [sic]. E se a imprensa não pára de mentir sobre nós, nós vamos atrás dos seus estúdios a seguir.”

Algumas fotografias, como a referida pelo FBI, foram entretanto apagadas, bem como um vídeo onde a também apresentadora de rádio era bem explícita quanto aos intentos da invasão.

Voámos até aqui pela liberdade. Eles querem roubar a eleição, eles querem roubar tudo.”

Reprodução de imagem entretanto apagada das redes sociais de Jenna Ryan

O Washington Post compilou vários testemunhos de invasores que tomaram de assalto o Capitólio por terem recebido “instruções” para o fazer. Entre as pistas estão alguns vídeos, como o que abaixo se replica, em que um dos desordeiros grita: “Nós fomos convidados a vir aqui! Nós fomos convidados pelo Presidente dos Estados Unidos!”