Internacional

Frotas europeias mantêm acesso a águas britânicas até 2026 (com corte de 25%)

Acordo alcançado entre UE e Reino Unido prevê período de transição de cinco anos e meio nas pescas. Um quarto do valor das capturas será transferido de Bruxelas para Londres

Pesca em New Haven, no sul de Inglaterra. Os pescadores britânicos veem na saída da UE a hipótese de ressuscitar um sector que tem perdido peso na economia do Reino Unido
VICKIE FLORES/EPA

O acordo alcançado esta quinta-feira entre a UE e o Reino Unido prevê um período de transição no domínio das pescas de cinco anos e meio, durante o qual as frotas europeias mantêm acesso às águas britânicas, mas abdicam de 25% das capturas.

O dossiê das pescas revelou-se o mais ‘espinhoso’ entre aqueles que arrastaram as negociações em torno do novo acordo de parceria entre Bruxelas e Londres — além das matérias da concorrência e governação do acordo (resolução de litígios) —, e no final as partes acordaram que a UE transferirá ao Reino Unido 25% do valor das capturas pelas frotas europeias, que em contrapartida continuarão a ter acesso às águas britânicas onde tradicionalmente pescam até junho de 2026.

Depois dessa data, as partes passarão a negociar as quotas de pesca numa base anual, precisaram responsáveis europeus depois do anúncio do acordo sobre as relações futuras entre UE e Reino Unido no pós-‘Brexit’.

Os pormenores sobre as espécies e zonas abrangidas pela redução de 25% nas quotas de pesca da UE ainda não foram determinadas.

Na conferência de imprensa em Bruxelas para o anúncio do compromisso, o negociador-chefe da UE, Michel Barnier, reconheceu que este acordo “exigirá esforços” e garantiu que a UE “estará ao lado” dos pescadores dos Estados-membros afetados pela nova repartição.

“O acordo garante uma base de acesso recíproca às águas e recursos, com uma nova repartição das quotas e oportunidades de pesca. Este acordo exigirá esforços, tenho noção disso, mas a UE estará ao lado dos pescadores europeus para os acompanhar, é esse o nosso compromisso”, declarou o responsável francês, que liderou as negociações do lado europeu sobre o acordo comercial, depois de já ter dirigido as do Acordo de Saída, consumado em 31 de janeiro passado.

A Comissão Europeia sublinha que o acordo comercial agora ‘fechado’ com Londres cobre não só o comércio de bens e serviços, mas também um leque alargado de “outras áreas do interesse da UE, tais com investigação, concorrência, ajudas de Estado, transparência fiscal, transporte aéreo e rodoviário, energia e sustentabilidade, pescas, proteção de dados e coordenação dos sistemas comerciais”, providenciando “tarifas zero e quotas zero a todos os bens que cumpram as regras de origem”.

O acordo - um texto de cerca de 2.000 páginas, que deverá ainda ser aprovado pelos 27 Estados-membros (Conselho), Parlamento Europeu e Parlamento britânico — cobre também a cooperação a nível de aplicação da lei e cooperação judicial em matéria de direito penal e civil, e também os mecanismos de resolução de litígios.

Bruxelas aponta que de fora do acordo de parceria ficam domínios como a “política externa e cooperação na defesa e segurança externa”, dado o Reino Unido não ter querido negociar estas matérias, pelo que a partir de 01 de janeiro “não haverá assim um quadro em vigor” entre as partes “para desenvolver e coordenar respostas conjuntas a desafios de política externa, tais como a imposição de sanções a países terceiros”.

Ainda assim, o acordo alcançado, quatro anos e meio depois de os britânicos terem decidido em referendo abandonar o bloco europeu, evita um ‘divórcio’ desordenado que teria consequências já dentro de uma semana.

A aguardar ratificação, do lado da UE e do lado britânico, o acordo entrará em vigor de forma provisória em 01 de janeiro próximo, pelo prazo máximo de dois meses, segundo a proposta da Comissão Europeia.