O porta-voz do Executivo alemão, Steffen Seibert, disse em conferência de imprensa que foi "lamentável" o gesto do Governo de Minsk ao não permitir o trabalho dos observadores eleitorais da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e que "tenha usado violência contra manifestantes pacíficos". O mesmo responsável também condenou o bloqueio da rede de internet e a detenção de jornalistas.
Seibert instou a Bielorrússia a "aceitar a vontade dos cidadãos", mas não fez uma referência clara à aceitação, ou não, dos resultados das presidenciais por parte do governo de Berlim. Mesmo assim, disse que o Governo alemão tem "grandes dúvidas" sobre o processo eleitoral e que vai acordar com os parceiros europeus uma avaliação da situação.
A eleição de domingo na Bielorrússia é um dos pontos da agenda durante a reunião em São Petersburgo entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, e o homólogo alemão, Heiko Maas. Segundo os resultados oficiais finais da votação, o chefe de Estado, Alexander Lukashenko, há 26 anos no poder, obteve o sexto mandato, atingindo 80,23% dos votos, enquanto a grande rival, a opositora Svetlana Tikhanovskaia, chegou aos 9,9%.
Putin do lado do ex-patrão de cooperativa
"Conto que a sua ação à frente do Estado vai permitir o desenvolvimento futuro das relações entre a Rússia e a Bielorrússia - vantajoso para as duas partes", escreveu o Presidente russo num telegrama enviado para Minsk. A Rússia é essencial para a economia da Bielorrússia, enviando, por exemplo, energia a preços mais baixos. Nas últimas semanas, Lukashenko acusou o "tradicional aliado russo" de querer desestabilizar o país ao apoiar a oposição e até chegou a prender 33 homens que classificou de "mercenários russos", tudo para tentar fomentar o medo do inimigo externo e, assim, elevar as suas hipóteses de um bom resultado. O perigo das invasões externas ainda é um assunto sensível para quem viveu os tempos da 2ª Guerra Mundial e da URSS.
Polónia pede cimeira extraordinária da UE
A Polónia apelou esta segunda-feira a uma cimeira extraordinária da União Europeia (UE) sobre a situação na Bielorrússia, após os protestos ocorridos na noite de domingo em Minsk contra os resultados das presidenciais.
"As autoridades utilizaram a força contra os seus cidadãos que reclamam uma mudança no país. Devemos apoiar o povo bielorrusso na sua busca pela liberdade", declarou, num comunicado, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki.
Os resultados são contestados pela oposição, que denunciou atos de violência e de fraudes no processo eleitoral. O presidente da Bielorrússia defendeu que os manifestantes que no domingo protestaram contra o que consideram ser mais um ato eleitoral controlado por Lukashenko não passam de "carneiros" dos poderes externos. "Tomamos nota das mensagens do estrangeiro: da Polónia, da Grã-Bretanha e da República Checa. Eles enviaram apelos para, desculpem a expressão, teleguiarem os 'nossos carneiros'", disse Alexander Lukashenko à agência de Estado, Belta. "Não vamos permitir que o nosso país caia em pedaços", disse ainda o chefe de Estado, referindo-se aos manifestantes que saíram às ruas no domingo à noite contra o resultado oficial das presidenciais.
Na Bielorrússia, os militantes da oposição não aceitam o resultado oficial da votação de domingo. Entretanto, uma organização não-governamental de Minsk, Viasna, anunciou que uma pessoa morreu e dezenas ficaram feridas durante as manifestações em Minsk, no domingo à noite, nos protestos contra o resultado.
"Um jovem foi vítima de um traumatismo craniano depois de ter sido atingido por um veículo" das forças de segurança durante as manifestações no centro da cidade, disse a ONG através de um comunicado.