Internacional

O "caos na Casa Branca" e um "passado de traumas". Os livros que Trump não quer ver publicados

Ao livro do ex-conselheiro de segurança nacional, John Bolton, e à obra em que uma sobrinha o retrata como o produto de "uma trágica combinação de negligência e abuso", o Presidente dos Estados Unidos reage com a ameaça dos tribunais. O primeiro autor já foi processado, a segunda está em vias disso

Donald Trump e John Bolton
Chip Somodevilla/Getty Images

Entre as várias acusações feitas a Donald Trump, o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton alega, em "The Room Where It Happened: A White House Memoir" ("A sala onde tudo aconteceu - um livro de memórias da Casa Branca"), que o Presidente norte-americano pediu ajuda ao homólogo chinês, Xi Jinping, para conseguir a reeleição (objetivo máximo, segundo o ex-conselheiro).

De que forma? Sugerindo que este aumentasse a compra de bens agrícolas dos EUA, a fim de Trump ficar bem visto em determinados estados, para conseguir mais votos. Isto contam o “The New York Times” e o “The Washington Post”, citando antecipadamente o livro de Bolton que o Presidente, a todo o custo, tem tentado evitar que seja publicado.

Numa tentativa de impedir a obra de chegar às livrarias, a administração Trump processou John Bolton. O argumento é o de que este está a violar as limitações contratuais a que está sujeito, comprometendo a segurança nacional. Na ação cível interposta, é dito que Bolton violou acordos de não divulgação, o que resulta na exposição de informações classificadas.

Além das acusações diretas ao Presidente, Bolton descreve o “caos na Casa Branca”; “o processo de tomada de decisão incoerente e desarticulado” que se tornou comum; e aprofunda o caso envolvendo o alegado pedido de Trump ao Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, para investigar a família do rival e ex-vice-Presidente Joe Biden.

Livro de sobrinha recorda "família disfuncional"

Mas esta não é a única obra a enfurecer o Presidente dos EUA. O que já foi escrito sobre "Too Much and Never Enough: How My Family Created the World's Most Dangerous Man” (“Demais e nunca o suficiente: como a minha família criou o homem mais perigoso do mundo”, numa tradução livre) é quanto basta para perceber porque a Donald Trump não agrada também a publicação deste livro, escrito por uma sobrinha e com data de lançamento agendada para 28 de julho.

O Presidente está, mais uma vez, a preparar-se para seguir o caminho dos tribunais, processando Mary L Trump, garantiu o “Daily Beast” esta terça-feira, citando fontes ‘familiarizadas’ com o assunto.

De acordo com a editora Simon & Schuster (a mesma que dará à estampa o livro de Bolton), o relato feito por Mary Trump denuncia "um passado de traumas, relacionamentos destrutivos e uma trágica combinação de negligência e abuso", que explicam como funcionava "uma das famílias mais poderosas e disfuncionais do mundo".

Além de descrever episódios como "testemunha em primeira mão”, a autora recorda o “relacionamento estranho e prejudicial entre Fred Trump e os seus dois filhos mais velhos, Fred Jr e Donald”, acusando o atual líder norte-americano de, mais tarde, “fazer troça” do pai, quando este começou a sofrer de Alzheimer.

Para o Presidente, o ‘timing’ do livro é também pouco simpático. A data de lançamento significa ficar disponível a apenas algumas semanas da Convenção Nacional Republicana, quando o partido deve confirmar a indicação de Trump como candidato à reeleição para a Casa Branca, em novembro.

Mary Trump, 55 anos e doutorada em psicologia clínica na Universidade Adelphi, em Nova Iorque, é filha de Fred Trump Jr., irmão mais velho de Donald, que morreu em 1981, aos 42 anos, por complicações provocadas pelo alcoolismo.

A relação entre tio e sobrinha azedou desde há muito, depois de Mary e o irmão terem dito que não receberam o que seria a parte do pai do património de Fred Trump Sr quando este morreu em 1999. A maior parte da riqueza, acusaram, foi dividida entre os quatro filhos sobreviventes.

Mary Trump terá sido também a principal fonte do “New York Times”, em 2018, quando o jornal publicou uma reportagem sobre as finanças do Presidente, tendo tido acesso a documentos confidenciais.