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“Uma genuína e legítima frustração.” A opinião de Barack Obama (em cinco pontos) sobre os protestos por George Floyd

O ex-presidente norte-americano escreveu sobre os protestos que tomaram o país após a morte de George Floyd. Legitimando a frustração, Obama pediu que se evitem estragos, apelou ao voto em alguém que “reconheça o papel corrosivo do racismo” na sociedade e deu sugestões de como usar este momento para criar mudança

Scott Olson/GETTY IMAGES

Não fosse uma pandemia global continuar ativa e em expansão em vários países e dir-se-ia que o mundo ocidental está todo a falar do mesmo tema. A morte de George Floyd, sufocado pela polícia, e a forma como ela simboliza o sistema de opressão há muito instituído nos Estados Unidos da América teve reação imediata, com as ruas de várias cidades norte-americanas, entre as quais Minneapolis, onde tudo aconteceu, a serem tomadas por manifestantes.

Entre as vozes que se têm colocado ao lado dos que gritam por justiça juntou-se esta segunda-feira Barack Obama, ex-presidente norte-americano. Num texto publicado na plataforma Medium, Obama não só deixa clara a opinião que tem sobre os protestos como deixa alguns conselhos sobre o que fazer daqui para a frente.

1. “Uma genuína e legítima frustração”

Os Estados Unidos têm falhado “ao longo de décadas” em reformar o sistema judicial e policial, assim como a prática dos agentes de autoridade, considera Barack Obama. E é por isso que garante estar ao lado dos manifestantes nesta “genuína e legítima frustração”. Obama responde assim aos que têm criticado a ida para as ruas, nomeadamente o seu sucessor na principal cadeira da Casa Branca. “Eles [os manifestantes] merecem o nosso respeito e apoio, não a nossa condenação.”

2. Aviso a uma “pequena minoria”

Apesar do apoio, Barack Obama deixa também um alerta à “pequena minoria que recorreu à violência de várias formas”: quem quer um código ético melhor, mais elevado, na justiça e na sociedade como um todo, tem de o construir. E a violência, as pilhagens, têm atingido muitos dos que já dispõem de menos recursos. Para o provar, Obama recorre a um exemplo: “Vi uma mulher negra idosa a ser entrevistada hoje em prantos, porque o único supermercado do seu bairro havia sido destruído. Se a história é um guia, essa loja pode levar anos a voltar.”

3. Votar não é indiferente

O ex-presidente dos EUA ouviu, e não terá sido o único, que o sistema de justiça criminal norte-americano está de tal forma contaminado de um racismo que é, antes de mais, institucional, que só o protesto e a ação direta o pode mudar. “Não podia discordar mais”, escreve.

Para o político, votar não é indiferente. “De facto, ao longo da história americana, muitas vezes foi apenas em resposta a protestos e desobediência civil que o sistema político prestou atenção às comunidades marginalizadas. Mas, eventualmente, as aspirações precisam de ser traduzidas em leis e práticas institucionais específicas - e numa democracia, o que só acontece quando elegemos funcionários do governo que respondam às nossas exigências.”

Obama pede que ao protesto na rua se junte o protesto na urna.

4. Política além da Casa Branca

Barack Obama ocupou durante oito anos o lugar principal da política americana. Presidente eleito em 2008, lembra que é importante ter “um presidente, um congresso, um departamento de justiça dos EUA e um sistema judicial federal que realmente reconheçam o papel contínuo e corrosivo que o racismo desempenha na nossa sociedade e quererem fazer algo a esse respeito”.

A frase pode ser lida como um alerta para as eleições norte-americanas, que se realizam em novembro deste ano, e para as quais Donald Trump deverá voltar a ser o candidato do Partido Republicano. Até à data, o atual presidente já chamou “bandidos” aos manifestantes, já disse que quer classificar o movimento Antifa como organização terrorista e pediu esta sexta-feira que os governadores dos estados onde há protestos detenham manifestantes por muitos anos.

Protestes pelo fim da violência policial contra cidadãos negros estendeu-se a diversas cidades norte-americanas
CRAIG LASSIG

Mas Obama tem um "mas": “os responsáveis [políticos] eleitos que mais importam na reforma dos departamentos de polícia e no sistema de justiça criminal trabalham a nível estadual e local”, avisa. E é aqui que apela ao voto, não só para a Casa Branca. “Infelizmente, a participação dos eleitores nessas corridas [para os Governos dos Estados ou das cidades] geralmente é muito baixa, especialmente entre os jovens”, lamenta. A escolha, para o ex-presidente, não deve ser entre protestar e ter participação política. “Nós temos de fazer ambos.”

5. Medidas concretas e a Fundação Obama

No texto publicado esta segunda-feira, Barack Obama deixa ainda uma sugestão para uma “mudança real”, que acredita que virá de uma nova geração, porventura menos familiarizada com os meandros da governação. “Quanto mais específicos pudermos ser nas exigências por justiça criminal e pela reforma da polícia, mais difícil será para os políticos eleitos oferecerem apenas elogios à causa e voltarem ao ‘business as usual’ depois de os protestos acabarem.”

Obama avisa que as necessidades de mudança numa comunidade rural não são as mesmas das de uma grande cidade e que é preciso olhar aos diferentes contextos para encontrar soluções.

O ex-presidente sugere mesmo um relatório e um conjunto de ferramentas da Conferência de Liderança em Direitos Civis e Humanos, por ele criada durante os anos de presidência (o link está, porém, inválido). “E se estiver interessado em tomar medidas concretas, também criámos um site na Fundação Obama dedicado a agregar e direcioná-lo para recursos e organizações úteis que lutam pela boa luta aos níveis local e nacional há anos.”

Para ler o texto completo, siga este link.