Internacional

Macron homenageia tenacidade de De Gaulle

O presidente francês deslocou-se a Montcornet onde evocou ao princípio da tarde de domingo dia 17 de Maio o contra-ataque levado a cabo há 80 anos pela IV Divisão Blindada do general de De Gaulle contra o até então imparável avanço dos panzer

Emmanuel Macron em La-Ville-aux-Bois-les-Dizy, dia 17 de maio, na cerimónia que assinalou a batalha de Montcornet
FRANCOIS LO PRESTI/Getty Images

Não foi um novo começo nem o princípio do fim mas ficou para a História. Faz hoje 80 anos a IV Divisão Blindada francesa comandada por um quase desconhecido coronel chamado Charles De Gaulle contra-atacava em força junto a Montcornet. O objetivo era cortar a linha de abastecimento das colunas blindadas alemãs que uma semana antes tinham aberto uma brecha nas defesas francesas de Sédan e se dirigiam para norte, prontas a cercar as forças belgas, britânicas e francesas.

Os combates duraram um dia inteiro, cortaram temporariamente as linhas germânicas e mostraram que os panzer não eram invencíveis. Saldaram-se pela retirada francesa e pela perda de 22 viaturas mas o sinal estava dado: era possível combater de outra forma!

Oitenta anos depois, um monumento evocativo ergue-se no meio dos campos plantados a perder de vista com beterrabas e cebolas, cuja linha de horizonte é dominada pelas esguias silhuetas das eólicas. A torre de um tanque encima uma estela funerária e foi junto a esse monumento que o presidente francês discursou esta tarde.

“Foi aqui, nos campos de batalha do Aisne, que De Gaulle se encontrou com o seu destino”, disse Emmanuel Macron. “No preciso momento em que a resignação e a indiferença pareciam levar a melhor, o espírito da resistência despontou”, acrescentou o presidente.

Uma lição com 80 anos

Num discurso de 15 minutos sem referências explícitas à crise sanitária em curso Macron serviu-se do exemplo de há 80 anos para carregar na tecla da tenacidade francesa. “De Gaulle ensinou-nos que a França é forte sempre que compreende o seu destino, se sabe unir e ouve a voz da coesão”.

As comemorações do Dia da Vitória na Europa (8 de Maio de 1945) haviam sido ensombradas por leituras contraditórias do passado, como a feita por Trump que resumiu o desfecho do conflito a uma proeza dos anglo-americanos. Passava assim uma esponja sobre o sacrifício dos outros aliados, desde os canadianos aos australianos, dos neozelandeses aos sul-africanos, para além dos soviéticos que contaram 23 milhões de mortos. E também sobre a resistência de franceses, italianos, jugoslavos, noruegueses e outros povos sob o jugo nazi.

Macron não deitou mais achas para a fogueira, sublinhando ter sido este o primeiro ato de uma comemoração múltipla: o ano dedicado a De Gaulle em que se comemorarão, entre outros, os 130 anos do seu nascimento, os 50 anos da sua morte e os 80 anos do apelo feito a 18 de Junho de 1940 aos microfones da BBC que terminava dizendo: “A chama da resistência francesa não se pode apagar. E essa chama nunca se apagará!”