Internacional

Moro apresenta vídeo com prova de pressões de Bolsonaro. Ex-superintendente confirma investigação a filho do Presidente

Há declarações intimidatórias do Presidente do Brasil numa reunião com o então ministro da Justiça Sérgio Moro, acerca de investigações a familiares, segundo pessoas que já visionaram o vídeo do encontro. Carlos Henrique Oliveira, afastado do cargo de superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, confirmou esta quarta-feira que um dos filhos do Presidente foi investigado. O depoimento contraria a garantia de Bolsonaro de que “a Polícia Federal nunca investigou ninguém” da sua família

Sérgio Moro e Jair Bolsonaro
EVARISTO SA/AFP/Getty Images

“Não vou esperar f**** alguém da minha família. Troco todo o mundo da segurança. Troco o chefe. Troco o ministro.” As declarações foram feitas pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante uma reunião com o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, a 22 de abril, segundo o portal de notícias G1, que cita pessoas que viram o vídeo daquele encontro.

O Governo tardou a cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de permitir o visionamento do vídeo. Em depoimento às autoridades, Moro disse tratar-se da principal prova de que, enquanto ministro, sofria pressões de Bolsonaro e que este interferia na Polícia Federal.

Entretanto, Carlos Henrique Oliveira, ex-superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, confirmou esta quarta-feira que um dos filhos do Presidente foi investigado. No depoimento à justiça, a que o jornal “O Globo” teve acesso, o antigo superintendente afirmou ter “conhecimento de uma investigação no âmbito eleitoral”, embora não tenha “havido indiciamento”. O ex-superintendente contrariou assim Bolsonaro, que na véspera afirmara à imprensa que “a Polícia Federal nunca investigou ninguém” da sua família.

Carlos Henrique Oliveira, que foi afastado na semana passada da Polícia Federal do Rio de Janeiro, disse, no entanto, que nunca recebeu qualquer pedido de Bolsonaro em relação às investigações em curso. O ex-superintendente prestou depoimento numa investigação solicitada pela Procuradoria-Geral da República, sob a supervisão do STF, sobre a alegada interferência política na Polícia Federal por parte do chefe de Estado.

Flávio investigado por branqueamento de capitais e falsidade ideológica eleitoral

De acordo com “O Globo”, o senador Flávio Bolsonaro era investigado num inquérito em curso na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro sobre um alegado branqueamento de capitais e falsidade ideológica eleitoral. Contudo, a Polícia pediu o arquivamento do inquérito em março.

A audição de Carlos Henrique Oliveira, assim como de outros membros da Polícia e do Executivo, foi determinada pelo STF, após as declarações feitas pelo ex-juiz e antigo ministro Moro que, em 24 de abril, pediu a demissão do cargo ministerial e acusou o Presidente de estar a interferir na Polícia Federal, na sequência da demissão do ex-chefe Maurício Valeixo sem motivo aparente.

“O Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele [para quem] ele pudesse ligar, [de quem] ele pudesse colher informações, [com quem] ele pudesse colher relatórios de inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um superintendente”, declarou, na altura, Moro.

“Moro, você tem 27 superintendências. Eu quero apenas uma”

Segundo o antigo ministro, Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal por estar preocupado com investigações em curso no STF que podiam envolver os filhos ou aliados políticos. No início do mês, o ex-juiz denunciou que Bolsonaro queria controlar a Polícia Federal do Rio de Janeiro através da indicação de um novo superintendente para aquele departamento. “Moro, você tem 27 superintendências. Eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”, terá dito Bolsonaro ao seu então ministro, no relato deste.

Segundo Moro, a pressão” para substituir o superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro começou no final de agosto de 2019 e cresceu até há algumas semanas, quando o mandatário lhe disse que poderia ser demitido caso não aceitasse essa alteração.

No depoimento de Carlos Henrique Oliveira ficou ainda registado que a sua indicação para o cargo de superintendente no Rio de Janeiro demorou a ser confirmada porque Bolsonaro queria nomear outra pessoa. “Houve uma demora na nomeação do depoente para esse cargo pois, na época, houve uma manifestação pública do Presidente, Jair Bolsonaro, noticiada na imprensa, no sentido que ele, o Presidente, desejava que outro delegado assumisse o cargo de superintendente no Rio de Janeiro", revela o documento a que “O Globo” teve acesso.