Nunca tantas pessoas no mundo estiveram deslocadas dos seus locais de residência dentro dos seus próprios países, concentradas, na prática, em campos de refugiaos sem condições: são 50,8 milhões de pessoas, cinco vezes a população de Portugal. O Centro de Vigilâcia da Deslocação Interna (IDMC, sigla em inglês) da organização de ajuda humanitária Norwegian Refugee Council publicou esta terça-feira um estudo que indica que em 2019 mais 33,4 milhões de pessoas tiveram de fugir para outras partes do seu país e que os desastres naturais, secundados pela violência, são as principais causas para estes números.
São 61 os países onde as pessoas são forçadas, às vezes várias vezes no mesmo ano, a sair dos locais onde se estabelecem, quase sempre porque a violência encontra forma de se espalhar até às suas novas moradas ou porque prosseguem numa procura nómada por melhores condições de vida. Os casos mais graves dão-se em países como Síria, Colômbia, Afeganistão, Iémen ou República Democrática do Congo.
Cerca de 5.1 milhões de pessoas em 95 países foram obrigadas a deixar as suas casas por causa de desastres naturais, situações não melhoram forçosamente com o passar dos anos. Ainda há 33 mil a sofrer o impacto do enorme terramoto no Haiti, há dez anos. Das novas deslocações forçadas em 2019, 24,9 milhões estão associadas a desastres naturais: cerca de 4,5 milhões por culpa do furacão Fani, que atingiu a Índia e o Bangladesh; do Idai e do Kenneth em Moçambique; e do tornado Dorian, nas Baamas.
Chuvas intensas em África provocaram pelo menos mais dois milhões de carenciados. Quanto à violência, afeta 8,5 milhões de pessoas em alguns dos países referidos acima, mas também na Etiópia, Sudão do Sul, Burkina Faso, Eritreia, ou seja, alguns dos países mais pobres do mundo. Antes desta última atualização do número de deslocados internos já existiam muitos milhões que não podiam permanecer em casa devido à guerra, a maior opressora do mundo, que faz deslocar mais de 45 milhões de seres humanos.
É impossível medir o contágio entre deslocados
A propagação da pandemia de covid-19 por todo o globo tornou a situação destas pessoas mais complicada: primeiro porque é impossível impedir o contágio nos campos de refugiados onde muitos vivem, be, como impor medidas de higienização das mãos, tendas, utensílios de cozinha ou roupas. Os produtos de limpeza não chegam a toda a gente e as verbas que os estados reservam para a ajuda internacional estão a cair, dada a emergência financeira nos seus próprios países. Acresce um problema logístico: há menos pessoas a trabalhar nos campos, estradas fechadas por polícias que nem sempre abrem exceções para a passagem de ajuda humanitária.
“Os deslocados internos costumam ser pessoas muito vulneráveis que vivem em acampamentos lotados, abrigos de emergência e campos informais com pouco ou nenhum acesso aos serviços de saúde”, disse a diretora do IDMC, Alexandra Bilak, no comunicado que acompanha o estudo. “A pandemia global de coronavírus tornará todas ainda mais vulneráveis.”
Bilak informou que o Norwegian Refugee Council e outras agências de ajuda estão a emitir alertas sobre as restrições que muitos governos estão a impor e que estão a afetar a entrega de ajuda.