Internacional

Embaixador de Portugal em Pequim ao Expresso: “Só terei calma quando os portugueses estiverem no ar”

“Não sobra tempo para outros assuntos, só terei calma quando a comunidade portuguesa daqui estiver no ar”, declara ao Expresso o embaixador de Portugal em Pequim. José Augusto Duarte falou sobre a evolução do surto de coronavírus (2019n-CoV) na China a partir da embaixada em Pequim, confessando não descansar enquanto não conseguir fazer sair os portugueses que querem deixar a China

WU HONG/EPA

O embaixador de Portugal na China falou ao Expresso na manhã desta segunda-feira, acabado de regressar de uma reunião no Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, durante a qual os embaixadores dos países representados em Pequim receberam as últimas informações relativas à evolução do surto de coronavírus.

"Não há a menor dúvida de que as autoridades chinesas estão a levar esta crise muito a sério com uma escala de medidas para evitar a propagação do vírus que é inimaginável em todo o mundo onde eu tenho estado", diz José Augusto Duarte, em declarações exclusivas ao Expresso.

Lembrando que, em poucos dias, as autoridades "não hesitaram em colocar 60 milhões de pessoas em quarentena" fechando áreas enormes "com o impacto económico que se imagina", o embaixador de Portugal reconheceu que a atitude e rapidez de ação são "dignas de elogio e registo".

Dar segurança à população

Este aspeto das operações é "importante e dá segurança à população", no entanto, perante o aumento do número de pessoas infetadas e de óbitos, a embaixada está a multiplicar esforços para retirar do país o mais rapidamente possível os 12 dos 13 portugueses com os quais se mantém em contacto permanente desde o início da crise.

"A insegurança é um estado de alma e é uma questão emocional", diz José Augusto Duarte, acrescentando que o mais recente plano de retirada dos cidadãos portugueses que está a ser desenvolvido passa por fretar um avião civil que os vá buscar a Wuhan e os transportará diretamente para Portugal. A embaixada está a concertar esforços com outras representações de menor dimensão da União Europeia no sentido de, "por solidariedade", e repartição de custos, conforme se lê no comunicado da embaixada portuguesa em Pequim, transportar também os seus cidadãos naquele voo.

"A situação tem evoluído", diz o embaixador, explicando que a embaixada faz comunicados uma ou duas vezes por dia a fim de manter informados "os nossos concidadãos".

"Estou em contacto permanente com o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Portugal, onde o plano está a ser concretizado, com a comunidade aqui e com as autoridades chinesas de Pequim e de Hubei [província onde se insere Wuhan] que terão de conceder as autorizações para ver se conseguimos fazer o transporte levando connosco outros cidadãos europeus", esclarece o embaixador.

"Nós não somos médicos e temos de ter empatia com a aflição dos cidadãos portugueses que são permeáveis ao aumento do número de pessoas infetadas". José Augusto Duarte é direto: "O que lhe digo agora poderá estar ultrapassado amanhã, mas garanto que estamos a fazer todo o possível para concretizar o plano de evacuação".

Situação séria com resposta à altura

Recordando o que se passou em 2003-2004, durante o surto de SARS, que matou 800 pessoas, em que a divulgação dos números oficiais de infetados e óbitos ocultou a verdadeira dimensão da crise, o embaixador dissipa dúvidas: "Não há suspeição de que possa haver discrepâncias", acrescentando que as autoridades sanitárias chinesas estabeleceram contacto logo desde o início com a Organização Mundial da Saúde, "mantendo desde então uma atitude de abertura a nível interno e externo".

"Isto é sério. O vírus é grave e desconhecido. Ainda não existe antídoto", afirma o embaixador.

"Os números têm de ser divulgados e assustam, o ambiente é tenso quando toda a gente usa máscaras, mas é normal que as pessoas fiquem ansiosas", conclui.