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Hong Kong. Homem de 70 anos é segunda vítima mortal nos protestos. Presidente chinês apela à ordem

O homem terá sido atingido por um tijolo durante um confronto entre manifestantes e moradores. “Crimes radicais, violentos e persistentes espezinharam o Estado de Direito e a ordem social”, disse Xi Jinping. Várias universidades cancelaram as aulas do resto do semestre. A polícia referiu-se a uma delas como “uma fábrica de armas e um arsenal”

ISAAC LAWRENCE/AFP/Getty Images

Um homem da limpeza com 70 anos morreu esta quinta-feira, no quarto dia consecutivo de protestos violentos em Hong Kong. Trata-se da segunda vítima mortal desde que as manifestações começaram em junho naquela região administrativa especial da China.

Segundo fontes hospitalares, o homem terá sido atingido por um tijolo durante um confronto entre manifestantes e moradores pró-Pequim, acabando por morrer já no hospital. A sua morte acontece menos de uma semana depois de um estudante, que tinha caído de um edifício durante uma manifestação, ter morrido devido aos ferimentos.

Na segunda-feira, a polícia disparou sobre o estômago de um estudante de 21 anos a curta distância e um homem de 57 foi incendiado enquanto discutia com manifestantes. Um rapaz de 15 anos encontra-se hospitalizado em estado crítico depois de ter sido atingido na cabeça por uma lata de gás lacrimogéneo na quarta-feira.

“Parar a violência e restaurar a ordem são as tarefas mais urgentes”, diz Xi

À margem de uma cimeira dos BRICS, que decorreu em Brasília, o Presidente da China, Xi Jinping, afirmou que “crimes radicais, violentos e persistentes espezinharam o Estado de Direito e a ordem social” em Hong Kong. Em declarações citadas pela agência estatal de notícias Xinhua, Xi garantiu o apoio de Pequim à polícia daquela região, ao sistema judicial na punição de “criminosos violentos” e à chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam. “Parar a violência e restaurar a ordem são as tarefas mais urgentes de Hong Kong neste momento”, sublinhou.

Enquanto o Presidente chinês falava no evento anual das cinco maiores economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), manifestantes em Hong Kong queimavam uma bandeira chinesa, bloqueavam estradas e atiravam bombas de petróleo à polícia de choque, que respondia com gás lacrimogéneo. Alguns estudantes barricaram-se no interior de universidades e, nalguns casos, construíram barreiras nas ruas, onde armazenavam arcos e flechas, cocktails molotov, catapultas e outras armas artesanais, conta o jornal inglês “The Guardian”.

Várias universidades cancelaram as aulas do resto do semestre, o que levou estudantes da Europa, da China continental e de Taiwan a abandonarem a região. O superintendente-chefe da polícia, John Tse Chun-Chung, referiu-se à Universidade Chinesa de Hong Kong como “uma fábrica de armas e um arsenal” e disse que os protestos no campus universitário estavam “um passo mais perto do terrorismo”. O Departamento de Educação suspendeu todas as aulas desta sexta-feira nas escolas primárias e secundárias.

As quatro exigências ainda por cumprir

As manifestações, que começaram em junho, devem-se à alegada intromissão do Governo central nas liberdades de Hong Kong, designadamente no sistema judicial, desde que a antiga colónia britânica voltou ao domínio chinês em 1997. Pequim nega as acusações.

As ruas têm sido palco de vários protestos pró-democracia, com confrontos por vezes violentos com a polícia.

Os manifestantes continuam a lembrar as quatro exigências que ainda estão por cumprir. Depois da retirada do projeto de lei da extradição, que foi o grande catalisador das manifestações, o movimento de protesto exige uma investigação independente à atuação policial, uma amnistia dos presos na sequência das manifestações, o sufrágio universal e direto, e ainda que os protestos deixem de ser considerados motins.

Nem o Governo central de Pequim nem o Executivo de Hong Kong se mostram dispostos a atender a estas exigências.