É mais uma nuvem de fumo a adensar um mistério que leva já dois anos. A morte da jornalista Daphne Caruana Galizia não foi ainda explicada e Pieter Omtzigt, relator do Conselho da Europa que tem acompanhado o caso, suspeita que não estejam a ser feitos todos os esforços para que isso aconteça.
No segundo aniversário do assassinato de Daphne, o holandês partilhou algumas das suas preocupações relativamente à investigação que tem sido feita em Malta. “As autoridades individualmente até podem estar a fazer o melhor possível, mas a abordagem da força policial como um todo, e dos políticos responsáveis por ela, não corresponde à promessa do primeiro-ministro de não deixar pedra sobre pedra”, disse, em entrevista ao britânico "The Guardian".
Em outubro de 2017, então com 53 anos, a jornalista Daphne Caruana Galizia foi morta após ter sido colocado um explosivo no Peugeot 108 em que seguia, e que rebentou com Daphne lá dentro. Responsável pela investigação Panama Papers em Malta, a jornalista mantinha um blogue onde denunciava casos de corrupção, sobretudo de políticos. Entre eles, o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, e dois dos seus assessores. Daphne denunciara também, dias antes, estar a ser vítima de ameaças de morte.
Entre as críticas do relator Pieter Omtzigt estão a demora no afastamento de um dos investigadores do caso, no qual teria um conflito de interesses, a recusa de uma cópia do computador de Daphne disponibilizada pela polícia alemã e uma denúncia de um ex-chefe da Europol sobre a fraca cooperação da polícia maltesa.
Tão grave quanto isto é, para Omtzigt, o falhanço em chegar a um acordo com um dos presumíveis assassinos, Vincent Muscat, que terá falado com a polícia sobre um intermediário. Muscat e advogados de defesa não chegaram, no entanto, a qualquer acordo com as autoridades, o que inviabilizou a possibilidade de Muscat denunciar outros envolvidos. Para o relator do Conselho da Europa, esta foi uma oportunidade perdida de chegar aos responsáveis morais pelo crime. “Estou preocupado que as autoridades tenham recusado provas que podiam levar a quem ordenou o assassinato”, afirma ao "Guardian". “E também estou preocupado que nem Muscat, nem o seu advogado, nem outros que possam estar preocupados com a situação — incluindo o suposto intermediário — tenham recebido proteção adequada”. Vincent Muscat é um dos três homens detidos por suspeitas de ter plantado o explosivo no carro. Agora na prisão, teme pela sua segurança.
“Sempre que faço perguntas concretas, eles recusam responder”
Há um ano, o holandês Pieter Omtzigt foi escolhido para fiscalizar o caso através do Conselho da Europa, um grupo de defesa dos direitos humanos constituído por membros eleitos de 42 Estados. Desde então, tem mantido um diferendo com o primeiro-ministro maltês, que o acusa de mentir e de ter “graves défices de credibilidade”. Omtzigt responde no 'Guardian': “Sempre que faço perguntas concretas sobre o caso ou solicito uma reunião, eles [membros do Governo] recusam responder ou aparecem com todo o tipo de histórias.”
Daphne Galizia investigava casos de corrupção em Malta ligados aos Panama Papers quando foi assassinada. Para que o seu trabalho não se perca, foi criada por um grupo de jornalistas e órgãos de comunicação social a associação Forbidden Stories, da qual o Expresso faz parte.