O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, diz não se conseguir lembrar de quantas vezes pintou a cara de negro quando era jovem. “Receio dar uma resposta definitiva por causa das imagens que surgiram agora e de que não me lembrava”, confessou.
Na quinta-feira, apareceu um vídeo em que Trudeau veste uma t-shirt branca e calças rasgadas, tendo o rosto e os membros cobertos de maquilhagem preta. No vídeo, gravado nos anos 1990, o agora chefe de Governo ri-se, levanta os braços, põe a língua de fora e faz caretas. Trudeau estaria a sair da adolescência ou teria pouco mais de 20 anos na altura.
Na véspera, o primeiro-ministro já dissera que “lamenta profundamente” ter escurecido o tom de pele numa festa em 2001. “Arrependo-me profundamente. Não devia ter feito isso. Na altura, não pensei que fosse racista mas agora vejo que é”, acrescentou. A revista “Time” publicou uma fotografia de Trudeau em que este surge com maquilhagem castanha no rosto, no pescoço e nas mãos e ainda com um turbante e outras vestes. A fotografia encontra-se num anuário escolar numa altura em que Trudeau, então com 29 anos, era professor na West Point Grey Academy.
“Escurecer o rosto é sempre inaceitável”
“Em 2001, quando eu era professor em Vancouver, participei numa gala de final de ano em que o tema eram as noites árabes. Vesti um fato de Aladino e pus maquilhagem. Não o devia ter feito. Lamento muito”, explicou.
Neste seu primeiro ato público de contrição, Trudeau reconheceu não ter sido a primeira vez que fez algo do género. Quando estava no liceu, participou num concurso de talentos, cantando “Day O”, uma música tradicional jamaicana, “com maquilhagem”, contou. “Estou obviamente arrependido de ter feito isso. Estou obviamente irritado comigo próprio”, disse.
Esta quinta-feira, ao pronunciar-se pela segunda vez sobre o assunto, o primeiro-ministro declarou: “Escurecer o rosto, independentemente do contexto ou das circunstâncias, é sempre inaceitável por causa da história racista da blackface [cara pintada de negro]. Devia tê-lo percebido na altura e nunca devia ter feito isto.” “Tendo refletido sobre o assunto, peço perdão”, acrescentou, atribuindo às suas origens privilegiadas o facto de não ter percebido quão prejudiciais ações deste tipo são.
Incidentes sucedem-se a um mês das eleições
Nos últimos dias, Trudeau tem ligado a vários dirigentes do Partido Liberal, que lidera, pedindo desculpas pela sua conduta no passado. O ministro da Defesa, Harjit Sajjan, considerou errada a atuação mas lembrou as políticas do chefe de Governo na promoção da diversidade. O deputado liberal Omar Alghabra também reagiu no mesmo sentido: “Ele tem liderado o combate ao tipo de dor que estas imagens estão a causar.”
O líder da oposição conservadora, Andrew Scheer, disse que o pedido de desculpas de Trudeau “não é verdadeiro”. “Foi-lhe perguntado especificamente se tinha havido outros casos em que tivesse adotado este comportamento racista e ele disse que havia apenas mais um incidente. Agora sabemos que houve pelo menos três”, criticou.
A acumulação destes incidentes acontece quando Trudeau tenta segurar nas urnas a sua maioria parlamentar. Os eleitores votam a 21 de outubro no que se espera ser uma luta renhida. As sondagens mostram o primeiro-ministro e o líder da oposição empatados na votação popular, ainda que os liberais tenham vantagem ao nível dos assentos no Parlamento.