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“É preciso coragem”: Giuseppe Conte passa de demissionário a homem encarregado de formar novo Governo em Itália (e Salvini fica de fora)

““O país vive uma fase delicada e a nossa prioridade é mesmo a aprovação do Orçamento de Estado”, diz Giuseppe Conte

Giuseppe Conte
ARIS OIKONOMOU/Getty Images

O Presidente italiano, Sergio Mattarella, deu esta quinta-feira luz verde ao primeiro-ministro demissionário Giuseppe Conte para tentar formar um novo governo, depois de Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga, ter proposto uma moção de censura a Conte e de este se ter demitido.

Reagindo ao anúncio, o primeiro-ministro demissionário disse aceitar o mandato com “reservas”, segundo o jornal italiano “Corriere della Serra”. Tem ainda pela frente a responsabilidade de negociar com os dois partidos e entender se são capazes, ou não, de chegar a acordos, e a que acordos exatamente. Depois disso, voltará a reunir-se com o Presidente italiano dar conta dos progressos feitos e pedir o seu aval relativamente aos ministros escolhidos. A tomada de posse deverá acontecer na próxima semana.

“Um governo para o bem dos cidadãos”

Citado ainda pelo referido jornal italiano, Conte admitiu que a ideia de formar um novo Governo “com uma maioria diferente da anterior” suscitou-lhe “muitas dúvidas”, sendo certo para si, todavia, que vai formar “um governo para o bem dos cidadãos”. “Este é um momento de coragem, um momento de determinação”, disse ainda, acrescentando que é necessário “sair da incerteza política o mais rápido possível”.

Conte anunciou que pretende consultar já hoje todos os parlamentares e comprometeu-se a “elaborar um programa com todas as forças políticas que manifestaram o seu apoio”. “O país vive uma fase delicada e a nossa prioridade é mesmo a aprovação do Orçamento de Estado. Devemos transformar esta crise do governo em oportunidades para trabalhar e oferecer às nossas crianças um país melhor”, disse. Para Conte, esse orçamento deverá “contrastar o aumento do IVA, proteger as poupanças” dos italianos e garantir “um crescimento e desenvolvimento social sólidos”. Num documento assinado em conjunto, e já no contexto desta coligação governativa, o PD e o M5E afirmam que vão pedir à UE flexibilidade para 2020 de modo a “reforçar a coesão social” no país.

Salvini acusa PD de “perder sempre as eleições mas conseguir chegar ao poder contra a vontade dos italianos”

A Salvini, que desfez a coligação e pediu eleições na expectativa razoável de vencê-las — uma sondagem realizada pelo canal La7, dias antes da apresentação da moção de censura, colocava-o na liderança com 36%, o que lhe permitiria formar um governo de maioria absoluta com o Irmãos de Itália (7,1%) e a Força Itália (6%) — tudo acabou por não correr de feição e a sua reação ao anúncio de formação de um novo governo do qual está excluído demonstra isso.

Aos jornalistas, acusou o PD de “perder sempre as eleições” mas, ainda assim “chegar ao poder, mesmo contra a vontade dos italianos”. Apelidou o novo governo de “governo Monti”, em referência ao governo de austeridade formado em substituição do de Silvio Berlusconi, liderado pelo antigo comissário europeu Mario Monti e imposto pela UE. “Mais cedo ou mais tarde”, disse Salvini, “os italianos vão insurgir-se e punir o PD e o Cinco Estrelas”.

Conte tem uma tarefa difícil pela frente

Na quarta-feira, em declarações depois de uma reunião com o Presidente Mattarella, que serviu para anunciar a disponibilidade para governar em coligação com o Cinco Estrelas, o secretário nacional do PD, Nicola Zingaretti disse estar confiante de que os dois partidos vão conseguir chegar a um entendimento e apresentar um programa político que agrade a ambos e, ao mesmo tempo, garante a estabilidade do próximo governo. Estamos dispostos a apoiar uma nova etapa para Itália, a nível político, económica e social, com um Governo que reconheça que existem dificuldades económicas, mas consciente de que essas dificuldades podem ser superadas”, afirmou Nicola Zingaretti.

A tarefa que Giuseppe Conte tem agora pela frente não será, contudo fácil. O “El País” lembra como ambos os partidos juraram “ódio eterno” depois de algumas diatribes no passado, tendo o PD sido inclusivamente acusado de ter favorecido uma rede de sequestro de crianças de famílias pobres para entregá-las a famílias ricas. “Será interessante ver como Conte conseguirá materializar uma aliança nos corredores e salões do palácio e que se baseia, principalmente, na necessidade comum de parar Salvini”, acrescenta o jornal.