Internacional

Boris Johnson nega que suspensão do parlamento tenha a intenção de impedir voto contra o “no deal”

O primeiro-ministro britânico está a ser acusado de "atentado contra a democracia e contra o parlamento" mas, em declarações aos jornalistas, nega que seja essa a sua intenção e avança que só está preocupado com a sua agenda legislativa

Johnson durante a campanha pro Brexit
Carl Court/ Getty

Boris Johnson já reagiu ao tumulto criado pela sua decisão em prorrogar a abertura do parlamento até dia 14 de outubro, apenas a 15 dias do prazo final para um possível acordo para uma saída ordenada da União Europeia. O primeiro-ministro britânico está a ser acusado de tentar impedir que os deputados discutam e eventualmente aprovem uma medida que impeça o governo de se precipitar para uma saída sem qualquer ligação à UE mas, questionado pelos jornalistas, nega ser essa a intenção.

“Isso é completamente falso. Estamos a apresentar um novo programa legislativo sobre criminalidade, sobre hospitais, assegurando que temos o financiamento da educação de que necessitamos e que haverá tempo suficiente em ambos os lados daquela crucial cimeira de 17 de outubro, tempo suficiente no parlamento para que os deputados possam debater o Brexit e todas as outras questões”.

Ainda sobre este tema, Boris disse que não vai esperar até 31 de outubro “para dar continuidade aos [nossos] planos de levar o país adiante”. “Temos de começar a pôr no terreno um orçamento e novas leis e é por isso que vamos ter o discurso da rainha a 14 de outubro”.

Umas linhas da carta de Boris Jonhson aos deputados

O PM britânico pediu esta quarta-feira à Rainha para suspender o parlamento - ver AQUI. Na sequência, Boris Johnson enviou uma carta aos deputados:

“Como sabem, a atividade parlamentar não tem tido um calendário muito assíduo. A atual sessão tem 340 dias e tem de terminar. Em 400 anos, só a sessão de 2010-2012 esteve perto de ser tão grande, com uma duração de 250 dias. Houve leis que, ao serem trazidas à Câmara dos Comuns, apesar de terem o seu mérito próprio, serviram apenas para matar tempo nos Comuns e também na Câmara dos Lordes, enquanto legislação essencial sobre o Brexit tem ficado na retaguarda, para garantir que seria transportada para uma nova sessão. Isto não pode continuar.

Por isso, pretendo apresentar uma nova agenda legislativa nacional arrojada e ambiciosa para a renovação do nosso país depois do Brexit”, pode ler-se numa carta de Boris Johnson aos deputados. “Haverá um programa legislativo significativo para o Brexit para aprovar, mas isso não deve ser desculpa para a falta de ambição. Esta manhã falei com a Sua Majestade a Rainha para pedir o fim da atual sessão parlamentar na segunda semana de setembro, antes do discurso da Rainha a 14 de outubro.

(...) Eu reconheço totalmente que o debate no discurso da Rainha será uma oportunidade para os membros do parlamento expressarem as suas opiniões sobre esta agenda legislativa do Governo e a sua abordagem ao conselho europeu em 17-18 de outubro.

(...) O parlamento terá a oportunidade de debater o programa do Governo, a abordagem ao Brexit, antes do Conselho da União Europeia, e votar em 21 e 22 de outubro, assim que soubermos o resultado do conselho. Se eu conseguir chegar a acordo com a União Europeia, o parlamento terá a oportunidade de aprovar o projeto de lei necessário para a ratificação do acordo antes de 31 de outubro. Finalmente, quero reiterar aos colegas que estas semanas que antecedem o conselho europeu a 17-18 de outubro são vitais para as minhas negociações com a União Europeia.

Os Estados-membros estão a ver com grande interesse o que o parlamento faz e só demonstrando união e determinação temos uma hipótese de garantir um novo acordo que possa ser aprovado pelo parlamento. Ao mesmo tempo, o Governo adotará a abordagem responsável de continuar as preparações para abandonar a União Europeia, com ou sem acordo”