Internacional

Bolsonaro chama herói nacional ao maior torturador da ditadura brasileira

As afirmações ocorreram antes de um almoço com a viúva do coronel Brilhante Ustra, a quem o presidente já em 2016 tinha dedicado o seu voto a favor do impeachment de Dilma Roussef

EVARISTO SA/GETTY IMAGES

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, continua a elogiar o mais famoso de todos os torturadores brasileiros. Esta quinta-feira, antecedendo um almoço com a viúva do coronel Carlos Brilhante Ustra - chefe do DOI-Codi, um organismo de repressão durante a ditadura militar, entre 1970 e 1974 - Bolsonaro voltou a chamar ao coronel "um herói nacional".

"Ela conta uma história bem diferente daquela que a esquerda contou para vocês. Tem um coração enorme. Sou apaixonado por ela", disse Bolsonaro. "Não tive muito contato, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. É um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer."

Ao que parece, além de ordenar torturas - os casos confirmados durante a sua liderança são 502 -, Ustra estava muitas vezes presente quando ocorriam. Por essa e outras atividades, foi criminalmente condenado em 2008, embora nunca tenha chegado a cumprir pena.

Bolsonaro, que começou a sua carreira de oficial durante a ditadura, tem insistido repetidamente que pessoas como Ustra salvaram o país. Em 2016, quando era deputado e contribuiu para o impeachment da então presidente Dilma Roussef, dedicou o seu voto a Ustra.

Mais recentemente, substituiu quatro dos sete membros da comissão que investiga os desaparecimentos durante a ditadura (questionado sobre isso, respondeu: "O motivo [é] que mudou o presidente, agora é o Jair Bolsonaro, de direita. Ponto final". E acusou a esquerda de ter cometido um assassinato que a comissão atribuiu inequivocamente ao Estado). Alguns dos novos membros são eles próprios oficiais.

Só entre 1970 e 1974, durante o período de Ustra à frente do DOI-Codi, houve 45 desaparecimentos de opositores e militantes de esquerda no Brasil.