Internacional

Congressista democrata avança com pedido de ‘impeachment’ de Trump na Câmara dos Representantes

“Trump expôs o alto cargo de Presidente ao desprezo, ridículo, vergonha e descrédito, semeou discórdia entre o povo, demonstrou ser incapaz de ser Presidente, traiu a confiança para manifesto prejuízo do povo”, justificou Al Green. A liderança democrata da Câmara dos Representantes deverá encaminhar pedido para a comissão judiciária ou arquivá-lo

Bill Clark/CQ Roll Call

O congressista democrata Al Green avançou formalmente com um pedido de ‘impeachment’ do Presidente dos EUA, Donald Trump, na Câmara dos Representantes. Segundo o jornal “The New York Times”, a medida ocorreu horas depois de a câmara baixa do Congresso americano ter votado como racista o ataque de Trump a quatro congressistas democratas. O Presidente sugeriu que estas voltassem para os seus locais de origem se não gostavam da direção que o país estava a tomar com a sua Administração.

“Com as suas declarações, Trump expôs o alto cargo de Presidente dos Estados Unidos ao desprezo, ridículo, vergonha e descrédito, semeou discórdia entre o povo dos EUA, demonstrou ser incapaz de ser Presidente, traiu a confiança para manifesto prejuízo do povo e cometeu um delito grave no cargo”, justificou Al Green, citado pelo jornal “The Washington Post”.

A Câmara dos Representantes está agora obrigada a lidar com a resolução no curto prazo. Segundo os regulamentos, a liderança democrata pode decidir arquivar os artigos de destituição presidencial apresentados, suspendendo-os por agora e arriscando as críticas da base liberal do partido, pode também encaminhá-los para a comissão judiciária para possível consideração ou então pode permitir que a votação decorra. Se a liderança nada fizer, Al Green poderá forçar uma votação dos artigos que apresentou em dois dias legislativos.

Al Green já tinha tentado o ‘impeachment’ duas outras vezes

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, foi cautelosa nas declarações aos jornalistas sobre o que decidirá fazer. Contudo, a liderança democrata disse ao “Washington Post” que Pelosi provavelmente encaminhará os artigos para a comissão judiciária ou arquivá-los-á, apesar de poder causar grande discordância entre as bases do Partido Democrata.

Antes da apresentação dos artigos de ‘impeachment’ por Al Green, o democrata Cedric Richmond disse à CNN: “Bom, se ele o fizer, vou votar a favor. Se eu acho que é a coisa mais estratégica agora, sem um plano... Quem sabe?”. O líder da maioria democrata, Steny Hoyer, afirmou, por sua vez, que não iria “tentar desencorajar” o congressista. “Ele tem de fazer o que pensa ser certo. Ainda não discutimos como reagir a isto”, acrescentou.

Esta não é a primeira vez que Al Green tenta fazer avançar um processo de ‘impeachment’ contra Trump. Em dezembro de 2017 e no mês seguinte, fez o mesmo mas, nas duas vezes, as suas propostas foram arquivadas pela Câmara dos Representantes, então ainda controlada pelo Partido Republicano.

“Se não o fizermos, o Presidente irá apenas intensificar o seu comportamento desagradável”

Apesar da relutância dos seus camaradas de partido, o congressista democrata considera que destituir Trump é uma obrigação. “Acredito que se não o fizermos, o Presidente irá apenas intensificar o seu comportamento desagradável. Pareceu-me que devíamos trazer estes artigos à Câmara dos Representantes para que pudéssemos não apenas condená-lo mas também destitui-lo para que ele perceba que há alguns limites”, explicou à CNN.

Antes, a câmara baixa do Congresso tinha votado a favor de uma resolução que denunciava os “recentes comentários racistas” de Trump. A proposta obteve 240 votos a favor e 187 votos contra. Além dos democratas, quatro republicanos votaram a favor da resolução – Will Hurd, Brian Fitzpatrick, Fred Upton e Susan Brooks –, assim como o independente Justin Amash.

Em causa estavam declarações de Trump no Twitter, que no domingo mandou quatro congressistas democratas “voltarem para as terras de onde vieram”. O comentário era dirigido a Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar, Ayanna Pressley e Rashida Tlaib. O quarteto tem algumas divergências com a colega de partido e presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.

Trump quer “tornar a América branca outra vez”, acusa Pelosi

Sobre elas, Trump escrevera: “É tão interessante ver congressistas democratas ‘progressistas’, que originalmente vieram de países cujos governos são uma completa e total catástrofe, os piores, os mais corruptos e ineptos do mundo... dizerem, de viva e maliciosa voz, ao povo dos Estados Unidos, a maior e mais poderosa nação na Terra, como o nosso Governo deve ser gerido. Porque é que não voltam para os lugares totalmente destruídos e infestados de crime de onde vieram? Depois regressam e mostram-nos como se faz.”

Das quatro democratas visadas por Trump apenas Omar não nasceu nos EUA.

Em reação, Pelosi acusou o Presidente de querer “tornar a América branca outra vez”, numa alusão ao slogan de campanha de Trump: “Make America great again” (“Tornar a América grande outra vez”).