A polícia de Hong Kong anunciou esta quarta-feira a prisão de 12 pessoas na sequência dos episódios de violência do início da semana no interior e nas imediações do Conselho Legislativo, o Parlamento da região administrativa especial. Os manifestantes presos serão julgados por posse de armas proibidas, reunião ilegal, agressão a um agente das autoridades e insubordinação.
Sob pressão da rua, o Executivo suspendeu no mês passado um projeto de lei que visava facilitar a extradição para a China continental. No entanto, apesar do recuo, os protestos continuaram, exigindo o abandono definitivo do texto legislativo e a renúncia de Carrie Lam, que lidera o Governo regional.
Os incidentes de segunda-feira eclodiram no contexto de uma grande manifestação anual por ocasião do aniversário da transferência da antiga colónia britânica para a China a 1 de julho de 1997.
A polícia interveio na noite de segunda para terça-feira, lançando gás lacrimogéneo para dispersar as centenas de manifestantes que haviam forçado a entrada no Parlamento e provocado danos materiais, incluindo computadores partidos e paredes cobertas de tinta com mensagens contra a polícia, o Governo e o projeto de lei.
Embaixador chinês chamado ao Ministério britânico
Entretanto, o embaixador da China em Londres, Liu Xiaoming, foi chamado ao Ministério das Relações Exteriores depois de ter acusado o chefe da diplomacia britânica, Jeremy Hunt, de apoiar os infratores em Hong Kong. Hunt apelara a Pequim para que não usasse os protestos como um “pretexto para a repressão”.
Na quarta-feira, o embaixador chinês disse que as declarações do ministro britânico representavam uma interferência grosseira a inaceitável, uma acusação que a chancelaria rejeitou como sendo inaceitável e incorreta.
Para sublinhar o descontentamento do Reino Unido, o vice-ministro das Relações Exteriores, Simon McDonald, convocou Xiaoming para prestar esclarecimentos.
Jornal chinês apela a “tolerância zero”
Nas últimas semanas, milhões de pessoas encheram as ruas de Hong Kong em protesto contra a lei de extradição, que permitiria que as pessoas fossem enviadas para a China continental para serem julgadas em tribunais controlados pelo Partido Comunista (PC) Chinês.
Advogados e grupos de defesa dos direitos humanos alegam que o sistema de justiça na China é marcado pela tortura, confissões forçadas e detenções arbitrárias. Pequim nega interferências mas, para muitos cidadãos de Hong Kong, o projeto de lei é o mais recente passo em direção ao controlo continental.
O jornal “Global Times”, publicado pelo grupo do Diário do Povo, controlado pelo PC chinês, apelava esta terça-feira a “tolerância zero” após os protestos violentos. “Por arrogância e raiva cegas, os manifestantes mostraram um completo desrespeito pela lei e ordem”, escreveu.
Chefe do Executivo mostra-se disposta a dialogar
A 1 de julho de 1997, Hong Kong regressou à China sob o modelo “um país, dois sistemas”, que prevê um conjunto de liberdades, incluindo a liberdade de protesto e um judiciário independente, que não são gozadas na China continental, refere a agência de notícias Reuters.
A oposição ao projeto de lei virou-se contra a líder do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, que a 15 de junho o suspendeu mas não anulou completamente, conforme exigido pelos manifestantes, que pedem igualmente a sua demissão.
Em conferência de imprensa, Lam condenou a atuação dos manifestantes, mas mostrou-se disposta a dialogar com todos os setores, inclusivamente com a juventude que tem liderado os protestos. A chefe do Executivo disse ainda sentir-se zangada e triste com a violência e caos causados pelo protesto sem precedentes e voltou a não dar qualquer indicação de que irá retirar definitivamente o projeto de lei.