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Capitã alemã detida em Lampedusa foi libertada. “O único ‘crime’ foi fazer valer os direitos humanos no Mediterrâneo”, diz a ONG

“Estamos aliviados por a nossa capitã estar em liberdade”, anunciou a ONG Sea Watch no Twitter. “Não havia motivos para mantê-la detida, já que aqui o único ‘crime’ foi fazer valer os direitos humanos no Mediterrâneo e ter a responsabilidade que nenhum governo europeu teve"

GUGLIELMO MANGIAPANE/REUTERS

Carola Rackete, a capitã alemã do Sea Watch 3, foi libertada nesta terça-feira, anunciou a ONG Sea Watch no Twitter. A juíza Alessandra Vella, do Tribunal de Agrigento, na Sicília, decretou a libertação da ativista, deliberando que Rackete "agiu para cumprir o dever de trazer os migrantes para segurança", conta a agência de notícias Ansa Brasil.

“Estamos aliviados por a nossa capitã estar em liberdade”, escreveu a ONG naquela rede social. “Não havia motivos para mantê-la detida, já que aqui o único ‘crime’ foi fazer valer os direitos humanos no Mediterrâneo e ter a responsabilidade que nenhum governo europeu teve.”

Rackete, de 31 anos, foi detida depois de atracar no porto de Lampedusa, com 42 pessoas a bordo do navio. “Decidi atracar no porto em Lampedusa, apesar de saber o que estava em causa. Porque estavam 42 pessoas exaustas e não aguentavam mais. E eu era responsável por eles. As suas vidas são mais importantes do que um jogo político”, explicou Carola Rackete num post no Twitter.

A ativista desafiou o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, e as autoridades portuárias ao entrar, na sexta-feira à noite, com o navio Sea-Watch 3 na doca de Lampedusa para que mais de 40 migrantes pudessem desembarcar.

A acusação alegava então que a capitã atacou deliberadamente um barco da polícia de fronteira que bloqueava o seu caminho, enquanto os advogados de Rackete dizem que ela não pretendia prejudicar ninguém.

Acusada de tentar uma manobra perigosa, a capitã Carola Rackete garantiu que nunca pensou na sua ação como "um ato de violência, mas apenas de desobediência". Em entrevista publicada no domingo pelo jornal "Corriere della Sera", Carola Rackete explicou que, naquele momento, atracar em Lampedusa pareceu-lhe ser a única solução face à "situação desesperada" que se vivia a bordo.

Com 40 imigrantes resgatados do mar há 17 dias, a capitã do navio da organização humanitária Sea-Watch tinha declarado o estado de emergência a bordo há mais de um dia (36 horas), recordou.

"A situação era desesperante, o meu objetivo era apenas trazer pessoas exaustas e desesperadas para o chão. Eu estava com medo", disse, explicando que temia que os imigrantes se atirassem ao mar, o que acabaria por significar a sua morte uma vez que não sabiam nadar. "Certamente não queria tocar na alfândega, a minha intenção não era colocar ninguém em perigo, eu já me desculpei e peço desculpas novamente.”

A sua manobra na noite de sexta para sábado para atracar em Lampedusa não causou feridos e o navio conseguiu desembarcar os migrantes que tinha resgatado da costa da Líbia. Esse episódio valeu-lhe uma acusação de ajuda à imigração ilegal e resistência a um navio de guerra.