Ao fim de mais de 18 horas de reuniões, os líderes europeus continuam sem conseguir chegar a acordo sobre as presidências da Comissão Europeia, do Conselho Europeu e do Parlamento. "O objetivo era fechar o pacote de cargos e isso ainda não foi alcançado", adiantou logo fonte do Conselho Europeu. A frustração ficou depois evidente das declarações de António Costa. O primeiro-ministro saiu do encontro a admitir que "neste momento não há plano nenhum". Um discurso muito alinhado com o do Presidente francês Emmanuel Macron. Ambos a apontar o dedo aos líderes que não permitiram o entendimento e provocaram a divisão.
Nas últimas horas da manhã, os líderes pareceram até estar a avançar no sentido de um acordo que dava aos socialistas a Presidência da Comissão Europeia, através de Frans Timmermans, e ao centro-direita o Conselho Europeu e meio mandato do Parlamento Europeu, para o alemão Manfred Weber. Os outros dois anos e meio iam para os liberais que ficavam também com o cargo de Alto Representante para a Política Externa, que podia ser entregue à dinamarquesa Margrethe Vestager. Mas os esforços não foram suficientes para fechar um entendimento esta segunda-feira.
Agora fica tudo em modo pausa até às 10 horas da manhã desta terça-feira. Os líderes ganham tempo para descansar depois de uma noite em claro e para esclarecer ideias e tentar voltar a forjar entendimentos.
"Foi uma decisão inteligente porque estamos todos cansados", disse no final do encontro o primeiro-ministro croata, sublinhando que "tudo está ainda em aberto". Andrej Plenkovic foi uma das vozes fortes de oposição a Frans Timmermans. Para o líder de centro-direita, o cargo principal do executivo comunitário deveria em primeiro lugar ser entregue ao Partido Popular Europeu que conseguiu o maior número de eurodeputados nas últimas europeias.
A bloquear o entendimento estiveram não só líderes do PPE, desalinhados de Angela Merkel e numa tentativa de confronto com a chanceler alemã, mas também países como a Polónia e Itália.
À saída do acordo, Angela Merkel disse esperar que um compromisso seja possível. O Presidente francês também. Mas o tom de irritação de Macron foi grande ao assinalar "um fracasso".
"É claro que este fracasso e as divisões que evoquei, em alguns casos motivadas por ambições pessoais que não deveriam estar sobre a mesa, terão de ser resolvidas amanhã, mas a realidade é que este processo foi mal pensado, com o método dos Spitzenkandidaten", disse Emmanuel Macron aos jornalistas.
O presidente francês tem sido sempre crítico desde processo que permite às famílias políticas apresentar candidatos à Presidência da Comissão Europeia durante as eleições. Na última cimeira, tinha já tentado afastar os nomes dos três principais cabeças de lista - Frans Timmermans, pelos socialistas, Manfred Weber, pelo centro-direita, e Margrethe Vestager, pelos liberais - mas os nomes foram repescados.
As críticas de Macron estendem-se também ao Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pela forma como conduziu a negociação a 28. A nossa credibilidade foi profundamente abalada com esta reunião demasiado longa, que não conduziu a lado nenhum".
As próximas horas servirão também para perceber que entendimento pode ser alcançado. E que nomes podem ainda surgir, capazes de gerar o entendimento que nas últimas 24 horas não existiu. Tudo em aberto e, de certa forma, de regresso à estaca zero, no sentido em que nenhuma família política consegue ainda segurar a presidência da Comissão Europeia.