Internacional

Franciscus Cornelis Gerardus Maria Timmermans: o ex-interrogador de prisioneiros de guerra que quer liderar a Europa

Frans Timmermans é a esta hora o nome mais provável para suceder a Jean-Claude Juncker na liderança da Comissão Europeia. António Costa, que apoia a escolha, já disse este domingo que “hoje há boas condições” para que o holandês seja mesmo o eleito durante a cimeira que reúne em Bruxelas os chefes de Governo e de Estado dos 28 - ainda que não estejam excluídas reviravoltas de última hora. Mas quem é afinal Timmermans?

Horacio Villalobos / Getty

Franciscus Cornelis Gerardus Maria Timmermans tem nome romano e católico como a família onde nasceu há 58 anos, em Limburg, Maastricht. Com nacionalidade holandesa, o político e diplomata estudou e trabalhou em diferentes países, conseguindo falar fluentemente inglês, francês, alemão, italiano e russo. Desde meados de 2018 que tinha como objetivo trocar o lugar de primeiro vice-presidente da Comissão Europeia (CE), que ocupa desde novembro de 2014, pela cadeira da liderança dos europeus, sucedendo a Jean-Claude Juncker.

Militante do partido trabalhista, acumula as funções de braço direito de Juncker com o cargo de comissário europeu com a pasta para Legislar Melhor, Relações Interinstitucionais, Estado de Direito e Carta dos Direitos Fundamentais. E tem um objetivo preciso: construir uma coligação à esquerda no Parlamento Europeu capaz de destronar o atual domínio do Partido Popular Europeu.

Curiosamente, os planos de Frans Timmermans, como é tratado, para chegar à presidência da CE passaram por Lisboa. O anúncio da sua candidatura aconteceu em outubro de 2018 e no dezembro seguinte o Partido Socialista Europeu viria a fazer a sua aclamação como candidato no congresso em Lisboa, tendo sido oficialmente nomeado já este ano, em fevereiro, na capital espanhola.

No currículo político, Timmermans acumula funções no seu país como secretário de Estado e depois ministro dos Negócios Estrangeiros e membro da Câmara dos Representantes pelo Partido Trabalhista entre 1998 e 2007 e 2010 e 2012. O despertar para a intervenção política aconteceu há 20 anos, quando deixou de trabalhar para o Governo holandês.

Casado pela segunda vez, tem duas filhas e dois filhos e estudou literatura francesa, direito europeu e história. A sua formação permitiu-lhe ser recrutado para o Serviço de Segurança e Inteligência Militar holandês com a missão de fazer interrogatórios a prisioneiros de guerra russos. Não muito tempo depois, cerca de quatro anos, acabaria a trabalhar como vice-secretário na embaixada holandesa em Moscovo. Foi em março de 1994 que Timmermans daria um passo decisivo no caminho para a liderança da Europa ao assumir funções como assessor do então comissário europeu Hans van den Broek.

Frans Timmermans pode agora ser o novo homem forte da Comissão Europeia, depois de Merkel ter admitido que pode apoiar o candidato dos socialistas. Mas nada está ainda garantido, porque há capitais que se opõem à nomeação do holandês para o cargo. "Os 4 países de Visegrado não podem apoiar Manfred Weber nem Timmermans", escreveu este sábado no Twitter o porta-voz do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.

Os 28 chefes de Estado e de Governo já estão reunidos em Bruxelas para decidir a escolha. Há uma semana, os liberais e socialistas no PE disseram que não passariam o nome do democrata-cristão Manfred Weber, falta saber se o Partido Popular Europeu aceita o de Frans Timmermans. "Haverá muitas, muitas reuniões bilaterais durante a tarde", adiantou ao Expresso fonte do Conselho Europeu. E houve também, pelas 14h, uma reunião dos negociadores das três principais famílias políticas, onde o primeiro-ministro português, António Costa, e o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, representaram os socialistas.

À entrada para a reunião dos 28, António Costa manifestou otimismo relativamente à provável escolha de Timmermans. "Eu continuo otimista que hoje cheguemos a uma boa solução de acordo. Como é sabido, desde o princípio que acho que Frans Timmermans é a personalidade que reúne melhores condições para ser presidente da Comissão. Creio que há hoje boas condições para que isso aconteça, mas vamos a ver, temos ainda seguramente muitas horas de reunião antes de chegarmos a uma conclusão final."

Outra fonte da CE deu conta ao Expresso de que o compromisso que está (de novo) em cima da mesa é para se escolher entre os candidatos à Comissão que se apresentaram durante as eleições europeias, desde que não seja o alemão Manfred Weber. Um entendimento que deixa o caminho aberto para Frans Timmermans e para a dinamarquesa Margrethe Vestager, que é apoiada pelos liberais. No entanto, as declarações de Merkel durante o G20, em Osaka, deram a entender que a escolha é só entre Weber e Timmermans. E, segundo outra fonte, Merkel já terá dito a Weber que está fora da corrida. Quanto a Macron, há sinais de que também está com o holandês.