O antigo Presidente do Sudão Omar al-Bashir apareceu este domingo pela primeira vez em público desde que foi deposto pelos militares em abril. Envergando uma túnica branca e turbante, o ex-líder foi escoltado, sob fortes medidas de segurança, de uma prisão de segurança máxima na capital, Cartum, para o gabinete do procurador-geral, descreve a Al Jazeera.
Al-Bashir foi informado das acusações que pendem sobre ele por posse de moeda estrangeira e aquisição de riqueza suspeita e ilícita, de acordo com a agência oficial de notícias SUNA. O antigo chefe de Estado tem agora uma semana para levantar eventuais objeções, tendo sido ainda interrogado sobre acusações de corrupção adicionais, não especificadas, e transportado de volta para a prisão de Kobar. Se não recorrer, al-Bashir poderá ser presente a tribunal já na próxima semana, informou o procurador-chefe do Sudão, Alwaleed Sayed Ahmed.
Os desenvolvimentos mais recentes foram recebidos com desdém e ceticismo pelos críticos, que consideram tratar-se de uma tentativa do Conselho Militar de Transição (CMT) de desviar as atenções da repressão sangrenta de manifestantes que ordenou recentemente e da sua relutância em ceder o poder a uma administração transitória liderada por civis. Os críticos também desconfiam da possibilidade de al-Bashir ser sujeito a um julgamento justo no Sudão.
Al-Bashir será julgado por violação de um decreto seu
O Tribunal Penal Internacional emitiu mandados de detenção sobre o ex-presidente, que chegou ao poder na sequência de um golpe em 1989, por crimes contra a humanidade e genocídio relacionados com os abusos cometidos pelas forças de segurança na região do Darfur, entre 2003 e 2008.
A realizar-se, o primeiro julgamento de al-Bashir será a propósito da alegada violação de um decreto que ele próprio impôs em fevereiro numa tentativa de aplacar os protestos contra o seu Governo. A contestação, motivada pelo aumento dos preços dos alimentos e por uma crise cambial, espalhava-se pelo país e o então Presidente impôs um estado de emergência e tornou ilegal transportar mais de três mil dólares em moeda estrangeira.
Pouco depois de ter deposto o antigo líder a 11 de abril, o CMT, que o substituiu, anunciou ter apreendido na residência de al-Bashir o equivalente a mais de 113 milhões de dólares em dinheiro em três divisas diferentes. Se for considerado culpado de violar o seu decreto, Omar al-Bashir arrisca-se a pelo menos dez anos na prisão.