O Ministério Público do Sudão acusou o antigo Presidente Omar al-Bashir de corrupção, revelou esta quinta-feira a agência oficial de notícias SUNA.
Al-Bashir, destituído e preso num golpe militar, a 11 de abril, após meses de protesto e três décadas no poder, foi acusado de “posse de moeda estrangeira” e “riqueza hedionda e suspeita”. A agência não adiantou, no entanto, mais detalhes sobre a acusação.
Os procuradores também ordenaram um inquérito ao ex-chefe de Estado por suspeitas de lavagem de dinheiro e financiamento de terrorismo.
O antigo Presidente, que não é visto em público desde a sua prisão, já tinha sido acusado em maio de incitamento e envolvimento na morte de manifestantes.
Militares querem “desviar a atenção da sua própria corrupção”
Eric Reeves, investigador sudanês na Universidade de Cambridge, disse à Al Jazeera duvidar que venha a haver um julgamento aberto porque al-Bashir “pode apontar o dedo a qualquer membro do atual Conselho Militar de Transição e aos seus crimes”. “Al-Bashir é acusado porque o conselho quer desviar a atenção da sua própria corrupção”, acrescentou.
Sobre Al-Bashir pendem ainda dois mandados de detenção emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade, cometidos durante o conflito no Darfur.
Entretanto, um porta-voz militar reconheceu na quinta-feira que foram cometidos erros na violenta repressão de manifestantes, ordenada a 3 de junho. O número de vítimas mortais diverge: os dados oficiais falam em 61 mortos, enquanto o Comité Central dos Médicos Sudaneses, ligado aos protestos, aponta para 118.
Na sequência da repressão, os líderes do movimento de contestação, que exigem um Governo liderado por civis e não por militares, apelaram a uma campanha de desobediência civil. A campanha foi entretanto cancelada para que as conversações entre os manifestantes e o conselho militar fossem retomadas.
Enviados dos EUA conversaram com conselho militar
Ainda na quinta-feira, o recém-enviado especial dos EUA ao Sudão, Donald Booth, e o secretário de Estado adjunto para os assuntos africanos, Tibor Nagy, encontraram-se com o chefe do conselho militar, Abdel Fattah al-Burhane. O general disse aos enviados americanos que o Sudão e o seu povo têm uma visão positiva dos esforços dos Estados Unidos para se chegar a um acordo político, segundo um comunicado divulgado pelos militares.
Na semana passada, a União Africana (UA) suspendeu a participação do Sudão em todas as atividades da organização, “com efeito imediato”, “até ao estabelecimento efetivo de uma autoridade de transição liderada por civis”. Esta é, segundo a UA, “a única saída para a atual crise”.