A AI afirma ter recolhido provas de que forças associadas ao Governo sudanês, como as Forças de Apoio Rápido e milícias aliadas "continuaram a cometer crimes de guerra e outras violações graves dos direitos humanos", tendo, em 2018, provocado "a destruição total ou parcial de pelo menos 45 aldeias, assassinatos e violência sexual".
"Dezenas de milhares de civis atualmente protegidos pelos militares de manutenção de paz das Nações Unidas (ONU)/União Africana [UA] em Jebel Marra, Darfur [UNAMID], não devem estar à mercê das Forças de Apoio Rápido, uma força de segurança sudanesa que cometeu crimes contra a humanidade e crimes de guerra", lê-se num comunicado divulgado hoje pela AI, no qual assinala o "voto crucial" para o futuro da missão, marcado para 27 de junho.
As Forças de Apoio Rápido, formadas a partir da milícia "janjaweed", são a unidade militar responsável pela operação que já matou mais de cem manifestantes civis que participavam num protesto contra o conselho militar de transição, na capital sudanesa, Cartum.
"No Darfur, tal como em Cartum, testemunhamos a brutalidade desprezível das Forças de Apoio Rápido contra civis sudaneses - a única diferença é que em Darfur eles cometeram atrocidades com impunidade durante anos. O conselho militar de transição deve retirar imediatamente as Forças de Apoio Rápido de quaisquer operações de policiamento ou execução da lei", afirmou a organização sediada em Londres.
Em 2017 e 2018, a ONU e a UA aprovaram reduções do número de militares na UNAMID e colocaram a proteção de civis em Jebel Marra como principal foco da missão.
Com a redução do pessoal alocado para a missão, os locais que antes eram utilizados pela UNAMID, ficaram livres. Segundo a HRW, nove dos dez locais abandonados pela UNAMID nos últimos oito meses são agora utilizados pelas Forças de Apoio Rápido.
"O Conselho de Segurança não deve permitir que estas abusivas forças paramilitares assumam as bases da missão", afirmou Jehanne Henry, uma responsável da HRW para África, acrescentando que este deve "parar todas as transferências, reavaliar os planos para a redução [da missão no Darfur] e concentrar-se novamente no objetivo fundamental da UNAMID, que é proteger civis".
Através de um comunicado, a HRW sugere ao Conselho de Segurança, que esta semana vai avaliar o novo mandato da UNAMID que entrará em vigor no final de junho, que mantenha os mesmos recursos para os próximos 12 meses.
Em junho de 2018, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma redução das forças presentes na UNAMID e a área de operação da missão para Jebel Mara, assumindo a intenção de retirar todas as forças em junho de 2020.
Em setembro de 2018, o então Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, defendeu a retirada total da UNAMID por considerar que a zona estava "pacífica". A missão, iniciada em 31 de dezembro de 2007, é uma das maiores implantadas pelas Nações Unidas em todo o mundo.
Em 2018, a UNAMID contava com 11.395 militares e 2.888 polícias. Para este ano, o Conselho de Segurança da ONU estimou a presença de 4050 'capacetes azuis' na região e 2500 polícias.
Atualmente, a missão conta com mais de 8500 destacados internacionais (5.591 são 'capacetes azuis') e 1516 operacionais sudaneses. De acordo com as Nações Unidas, o conflito causou mais de 300.000 mortos desde 2003 e obrigou cerca de 2,5 milhões de pessoas a abandonarem as suas casas.
Al-Bashir é alvo de dois mandados de detenção emitidos pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade, cometidos durante o conflito em Darfur.
O ex-chefe de Estado do Sudão Omar al-Bashir liderou o país entre 1989, quando chegou ao poder através de um golpe de Estado, e 11 de abril de 2019, quando foi destituído, também através de um golpe militar, encabeçado pelos militares.