Internacional

Sudão. Oposição eleva para 100 número de mortos da repressão militar

A oposição do Sudão rejeitou esta quarta-feira uma proposta da junta militar, no poder, para retomar o diálogo, questionando a seriedade dos militares sobre as negociações quando disparam sobre a população e matam manifestantes

REUTERS

Os organizadores dos protestos pró-democracia no Sudão deram esta quarta-feira conta da recolha de 40 corpos no rio Nilo, junto a Cartum, e elevaram a 100 o número de mortos resultantes da repressão violenta dos protestos no início da semana.

O Comité Central dos Médicos sudaneses, a fonte que está a dar conta do número de mortos até agora, indicou que os corpos foram retirados do rio na terça-feira e levados pelas forças paramilitares de intervenção rápida para um local desconhecido.

A oposição do Sudão rejeitou esta quarta-feira uma proposta da junta militar, no poder, para retomar o diálogo, questionando a seriedade dos militares sobre as negociações quando disparam sobre a população e matam manifestantes.

O presidente do Conselho Militar Transitório do Sudão, Abdel Fattah Burhan, afirmou hoje disponibilidade para retomar as negociações "sem restrições", depois de, na terça-feira, ter anunciado a suspensão de todos os acordos alcançados com a oposição.

Mohammed Yousef al-Mustafa, porta-voz da Associação de Profissionais Sudaneses, a organização sindical que lidera os protestos, disse, citado pela agência de notícias Associated Press que "os manifestantes rejeitam totalmente" o apelo do general Abdel-Fattah Burhan para retomar as negociações.

"Este apelo não é sério" porque "Burhan e aqueles sob o seu comando mataram e continuam a matar sudaneses. Os seus veículos estão a patrulhar as ruas e a disparar contra as pessoas", acrescentou.

Al-Mustafa deixou ainda a garantia de que "vão continuar com os protestos, resistência, greve e desobediência civil total".

O presidente do Conselho Militar Transitório, Abdel Fattah Burhan, manifestou hoje disponibilidade para retomar as negociações com a oposição depois de na terça-feira ter anunciado a suspensão de todos os acordos alcançados nas últimas semanas e de ter decidido convocar eleições num prazo de nove meses.

A ideia de realizar eleições foi rejeitada pela oposição sudanesa, que classificou a proposta como uma tentativa de 'reeditar' os passos do ex-Presidente Omar al-Bashir, deposto pelos militares em abril.

A tomada de posição de Burhan surgiu depois de, na segunda-feira, as Forças Armadas terem lançado uma operação militar para desmobilizar o acampamento de opositores em Cartum que resultou em pelo menos 100 mortos, na contabilização do Comité Central dos Médicos, e centenas de feridos.

O chefe da junta militar, que governa o país após a deposição do Presidente Omar al-Bashir, em 11 de abril, lamentou as mortes e ordenou uma investigação aos acontecimentos.

Os Estados Unidos, a Noruega e o Reino Unido divulgaram na terça-feira um comunicado em que condenaram as forças de segurança sudanesas pelo ataque violento de segunda-feira, considerando que a junta militar "comprometeu o sucesso do processo de transição e a paz no Sudão" ao ordenar o ataque contra os manifestantes.