O comité central de médicos sudaneses revelou esta quarta-feira que o número de mortos da repressão do início da semana subiu de 35 para pelo menos 60, com centenas de feridos.
As forças de segurança dispararam balas reais na segunda-feira quando tentavam dispersar os manifestantes concentrados no exterior do quartel-general do Exército na capital, Cartum, um local que se tornou o epicentro da contestação na longa luta por um Governo civil.
“Declaração de golpe e contra-ataque à revolução popular”
Na terça-feira, o general Abdel Fattah al-Burhane pediu desculpas pela violência e anunciou que o conselho militar de transição, que tomou o poder em abril após ter deposto o Presidente Omar al-Bashir, irá abrir uma investigação ao sucedido. O general também comunicou o cancelamento de um plano para um período de transição de três anos e a realização de eleições nos próximos nove meses – um plano rejeitado pela oposição.
“Consideramos que isto é uma declaração de golpe e um contra-ataque à revolução popular”, disse Omar al-Dukair, chefe do Partido do Congresso Sudanês, citado pela Al Jazeera. “Refutamos tudo, do início ao fim. Recusamos o apelo para eleições antecipadas e consideramos que as declarações do conselho militar estão conformes com a contrarrevolução e ligadas aos interesses do antigo regime”, acrescentou.
Conselho de Segurança falha declaração conjunta
Entretanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se na terça-feira, a pedido do Reino Unido e da Alemanha, para ouvir o enviado da ONU Nicholas Haysom, que tem trabalhado com a União Africana para encontrar uma solução para a crise sudanesa.
O vice-embaixador russo Dmitry Polyanskiy sinalizou que a declaração proposta era “desequilibrada” e sublinhou a necessidade de se ser “muito cauteloso nesta situação”. “Não queremos promover uma declaração desequilibrada. Isso pode estragar a situação”, reforçou, falando a jornalistas após a reunião de duas horas. Também a China se opôs à proposta de declaração conjunta por dizer tratar-se de um assunto interno sudanês.
Depois de o Conselho de Segurança não ter chegado a acordo sobre uma posição comum, oito países europeus “condenaram”, num comunicado conjunto, “os ataques violentos cometidos por serviços de segurança sudaneses contra civis”. Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália, Polónia, Reino Unido e Suécia disseram que “o anúncio unilateral [do conselho militar de transição] de cessar as negociações, nomear um Governo e convocar eleições num período de tempo demasiado curto é de grande preocupação”. A declaração europeia apelou ainda “a uma transferência acordada de poder para um Governo liderado por civis, como é exigido pelo povo do Sudão”.
“Vamos continuar esta revolução”
As negociações entre o conselho militar e os líderes dos protestos colapsaram recentemente devido a divergências sobre se o órgão de transição planeado deveria ser encabeçado por uma figura civil ou militar.
A dispersão sangrenta de segunda-feira não parece, no entanto, demover o movimento de protesto popular que promete continuar a pressão nas ruas. “Na próxima semana, começaremos a nossa desobediência civil”, disse Mohamed Nagy Alassam, do grupo de protesto Declaração de Liberdade e Forças de Mudança, também citado pela Al Jazeera.
“O conselho militar cortou o acesso à internet, cortou as redes de telecomunicações para encobrir os seus crimes. Prometemos revelar os crimes cometidos pelos militares nas ruas – das mortes às violações, à humilhação e ao medo. Vamos continuar esta revolução”, assegurou.