Passaram-se 24 horas e a corrente levou o navio Anfitriti a afastar-se quase 20 quilómetros do local onde naufragou na passada quinta-feira. Está agora encalhado no ilhéu da Tinhosa Grande, já muito perto da ilha do Príncipe, onde deveria ter atracado com os 64 passageiros e oito tripulantes que levava a bordo. Saíra de São Tomé na noite de quarta-feira e deveria ter chegado à ilha vizinha cerca de sete horas depois. Mas não chegou.
Há ainda nove desaparecidos, além de oito mortos - quatro adultos e quatro crianças. Outras 55 pessoas foram resgatadas com vida. Tentar perceber se há algum corpo dentro do navio é parte da missão dos seis mergulhadores portugueses, especializados em resgate e trabalhos subaquáticos, e outros dois fuzileiros, enviados pela Marinha portuguesa como "contributo solidário".
Ainda não foi possível confirmar a existência de portugueses a bordo do navio, embora a lista de passageiros tenha dois nomes “que, aparentemente, levam a concluir que se tratará de cidadãos portugueses", disse o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro. "Todavia, não é possível confirmá-lo porque não temos registo desses nomes nos nossos serviços consulares.”
Seis horas depois de terem embarcado no navio patrulha Zaire, este sábado, os militares portugueses enviados pela Marinha chegaram perto do local onde o navio agora está encalhado. Com eles levaram 240 quilos de material de apoio ao mergulho, incluindo um robô subaquático (ROV - Remote Operator Vehicle). O robô pode ser comandado a partir de um barco e tem capacidade de filmar debaixo de água, emitindo imagens em tempo real. É uma espécie de “pré-visita” ao navio, como explica ao Expresso o porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas, Pedro Coelho Dias, que disponibilizou os últimos vídeos das operações.
Este equipamento, que também foi usado nas operações de resgate da derrocada da pedreira em Borba, permitirá aos seis mergulhadores terem mais informação sobre a estabilidade do navio e até mesmo tentar perceber se, no fundo daquelas águas, que ali são límpidas e com uma profundidade entre cinco e dez metros, conseguem encontram algum corpo.
“Este primeiro mergulho serve para perceber em que estado se encontra o navio e se é possível a entrada dos mergulhadores, sem risco para a sua segurança”, explica Pedro Coelho Dias. Um segundo mergulho, já mais informado, já só deverá acontecer na manhã de domingo.
“É possível que alguns corpos possam estar presos nas cabines, mas como já se percebeu a corrente é muito forte e está vento. E isso significa que também pode ter levado os corpos para mais longe.” Além das operações subaquáticas, os dois fuzileiros vão equipados com dois drones para a recolha de imagens de alta resolução e busca a partir do ar.
O comandante do navio Zaire, onde seguem os oito militares portugueses, disse tratar-se de uma "missão muito complexa", sem conseguir estimar a duração das operações. "Acima de tudo devemos trabalhar em segurança e não definir metas", disse o primeiro-tenente Borges Mendes.
O Anfitriti (na mitologia grega Anfitrite era a deusa das águas do mar) costumava ser usado por residentes da ilha do Príncipe para irem até à capital fazer compras. Na quarta-feira à noite, zarpou do porto de São Tomé com 212 toneladas de carga, suspeitando-se que o excesso de carga possa estar na origem do naufrágio.
O Governo de São Tomé e Príncipe decretou três dias de luto, que começaram este sábado. “No decorrer deste período, a bandeira nacional será hasteada a meia haste e ficam suspensas todas as atividades culturais e recreativas de caráter oficial”, lê-se no comunicado do Conselho de Ministros, citado pelo jornal local “Téla Nón”.
Um desses dias de luto coincidirá com o 24.º aniversário da autonomia do Príncipe, que se comemora na próxima segunda-feira e costuma ser celebrado a partir do fim de semana.