Internacional

Trump continua a anunciar crise e “ponto de rutura” na fronteira com o México mas os centros de detenção estão praticamente vazios

As políticas de imigração “muito restritivas” da administração do atual presidente levaram a que muitas pessoas arriscassem entrar nos EUA a partir de outros pontos de entrada que não os legalmente definidos. Centros de detenção têm estado praticamente vazios nos últimos meses

"As fronteiras físicas que separam as nações são uma barreira que precisa de ser superada para partilharmos a responsabilidade de todos em relação às funções do nosso ecossistema global". Na foto, troço do muro entre os EUA e o México
Mario Tama/GETTY

Donald Trump continua a ser alarmista relativamente à situação na fronteira dos EUA com o México, que está, como tem dito, “num ponto de ruptura”, mas a realidade contradiz tudo isso.

De acordo com o britânico “The Guardian”, os centros de detenção de imigrantes têm estado praticamente vazios há meses e, na semana passada, havia milhares de camas livres em dois deles, em Dilley, no Texas, e no condado de Berks, na Pensilvânia. Isto, juntamente com os relatos de agências de ajuda humanitária que dão conta de um excesso de bens alimentares e medicamentos destinados a imigrantes da América Central, suscitaram a acusação de que o Governo de Donald Trump estaria a “fabricar uma crise” simplesmente para poder tornar ainda mais inflexíveis as políticas de imigração do país.

Citada pelo jornal britânico, Michelle Brané, diretora do programa de justiça e direitos humanos de migrantes da Women’s Refugee Commission, com sede em Nova Iorque, afirmou: “Acho que as pessoas que tomam decisões políticas não querem que o sistema funcione, só pretendem mesmo criar o caos”. Segundo a responsável, a enorme quantidade de pessoas que se aglomerou junto à fronteira com os EUA nos últimos tempos deve-se a uma conjugação de dois fatores - a crise na América Central e as políticas de migração “muito restritivas” da administração do atual Presidente, que têm “destruído o sistema”. Nelas se inclui a limitação do número de pessoas que podem pedir asilo em postos de fronteira legais, o que tornou muito mais lento o sistema de processamento de pedidos e levou a que muitas pessoas arriscassem entrar no país de forma ilegal.

Não é certo, contudo, que o número de centros de detenção que se encontram quase vazios se deva exclusivamente à diminuição do fluxo de imigrantes. Há outro aspeto a considerar e que tem que ver com a narrativa do governo de que não lhe resta outra opção a não ser libertar as pessoas que chegam aos postos de controlo de fronteira devido à chamada “lei-apanha-e-liberta”, uma vez que o Congresso nunca mudaria qualquer lei no sentido de estender o período de detenção de imigrantes, e com a necessidade da administração norte-americana de deportar rapidamente os requerentes de asilo.

Outro aspeto a ter em conta é o transporte dos requerentes de asilo, que de acordo com um porta-voz da Agência de Imigração e Alfândegas dos EUA (ICE, na sigla no original), “é muito limitado”, o que leva, segundo o seu esclarecimento, a que os centros de detenção de famílias estejam praticamente vazios.

Questionada pelo “Guardian”, a agência não mencionou os recursos de que necessita mas deu a entender não ter capacidade para deslocar as pessoas da fronteira para os centros no Texas e na Pensilvânia, onde há duas mil camas livres. Também destacou o facto de o seu trabalho estar a ser prejudicado pela diretiva que proíbe detenções de famílias e crianças por um período superior a 20 dias. Durante dois anos, Donald Trump tentou acabar com essa ordem.