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Nova Zelândia. “Hoje, do mesmo lugar, vejo o amor e a compaixão”, diz imã presente nos ataques da semana passada

Na mesquita de Al-Noor, Gamal Fouda assinalou uma semana sobre os atentados que mataram meia centena de pessoas. “A Nova Zelândia está de luto convosco, somos um”, tinha já declarado a primeira-ministra. Os vários atos simbólicos desta sexta-feira incluem um funeral em massa para 30 dos mortos das duas mesquitas de Christchurch

Gamal Fouda, imã da mesquita de Al-Noor
MARTY MELVILLE/AFP/Getty Images

“Estamos de coração partido mas não estamos quebrados”, disse o imã da mesquita Al-Noor, Gamal Fouda, que esta sexta-feira assinalou uma semana sobre os atentados que mataram 50 pessoas em Christchurch, na Nova Zelândia. Milhares de pessoas juntaram-se no Hagley Park, perto daquela mesquita, que, juntamente com a mesquita de Linwood, foram os dois locais de culto visados nos ataques.

A chamada muçulmana para a oração, o azan, foi transmitida na televisão e rádio nacionais às 13h30 locais (00h30 desta sexta-feiraem Lisboa), seguindo-se dois minutos de silêncio.

Antes, a primeira-ministra Jacinda Ardern, que participou nas cerimónias, tinha dito: “A Nova Zelândia está de luto convosco, somos um.” Citando o profeta Maomé, referiu ainda: Os crentes na sua bondade mútua, compaixão e empatia são como um só corpo. Quando qualquer parte do corpo sofre, todo o corpo sente dor.

O imã, que estava presente quando o ataque aconteceu, sublinhou: “Hoje, do mesmo lugar, vejo o amor e a compaixão”. “Estamos vivos, estamos juntos, estamos determinados a não deixar que ninguém nos divida”, acrescentou.

Mucaad Ibrahim, de três anos, o mais novo dos mortos

Muitas mesquitas em todo o país abrem as suas portas a visitantes, enquanto cordões humanos se formam no exterior em atos simbólicos de proteção e apoio.

A estas iniciativas junta-se um funeral em massa para 30 dos mortos, incluindo o mais jovem de todos, Mucaad Ibrahim, que morreu com três anos na mesquita de Al-Noor.

Na quinta-feira, Ardern anunciou a proibição da venda de todas as armas de assalto e semiautomáticas. “A 15 de março, a nossa história mudou para sempre. Agora, as nossas leis também vão mudar”, disse, sublinhando que a medida era tomada “em nome de todos os neozelandeses” para tornar o país “um lugar mais seguro”.

Kai Schwoerer/Getty Images

O “terrorista” cujo nome não deve ser pronunciado

Após um apelo de Ardern, alguns neozelandeses começaram a entregar as armas que possuíam. A nova legislação, cuja proibição se aplica também às peças usadas para converter armas comuns em semiautomáticas de estilo militar, entrará em vigor a 11 de abril.

Na terça-feira, a primeira-ministra instou os seus concidadãos a dizerem “os nomes daqueles cujas vidas se perderam em vez do nome do homem que as tirou”. “Ele é um terrorista. Ele é um criminoso. Ele é um extremista. Mas, quando eu falar, ele não terá nome”, sublinhou Ardern. O australiano Brenton Tarrant, um autodeclarado supremacista branco de 28 anos, foi acusado de homicídio na sequência dos ataques.

Ardern apelou ainda para que as redes sociais façam mais para impedir a partilha de vídeos como a gravação ao vivo do atirador de Christchurch. “Não podemos simplesmente aceitar que essas plataformas apenas existam e que o que é dito e feito nelas não seja responsabilidade do local onde é publicado. Elas são o editor, não apenas o carteiro. Não pode dar-se o caso de lucro sem responsabilidade”, frisou.