No dia 11 de março de 2004 Madrid foi palco de um atentado terrorista. Uma célula terrorista fez explodir dez bombas em comboios de Madrid, matando 192 pessoas e ferindo cerca de 1700. Mas, em sentido divergente face ao que aconteceu, a narrativa do Ministério do Interior contava que o atentado tinha sido levado a cabo pela ETA, versão oficial que se perpetuou durante 56 horas. Não passava de uma mentira promovida pelo Governo de Aznar, garante em entrevista ao “El País” Juan Jesús Sánchez Manzano, o responsável pela Tedex, a unidade de desativação de explosivos que trabalhou no caso.
Manzano, reformado deste outubro, revela que às 15 horas daquele 11 de março já sabia que a ETA não estava relacionada com o atentado, informando depois as autoridades. A Tedex baseava a conclusão nas pistas recolhidas de uma carrinha Kangoo usada pelos terroristas: tipo de explosivos, cassete com cânticos do Alcorão e detonadores. O dinamite ‘titadine’, a que recorria habitualmente a ETA, não provocava estragos daquela magnitude, conta Manzano ao diário espanhol.
Mas a narrativa do Governo, então liderado por José María Aznar, não seguiu na mesma direção. À noite, pelas 20 horas, o ministro do Interior Ángel Acebes comunicou ao país que a investigação apontava para a ETA. “Antes, pelas 17h35”, conta Manzano, “o Governo de Aznar já tinha emitido às embaixadas e organismos internacionais um telegrama, assinado pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Ana Palacios, em que se adjudicava explicitamente a autoria do atentado à ETA e que se instava os embaixadores a manterem essa teoria”.
Manzano revela que só soube destas comunicações públicas à uma da manhã, quando a mulher lhe contou. “Surpreendeu-me muito. Ela tinha ouvido as notícias. Ignoro a finalidade que tinha esse comunicado internacional que não se ajustava aos dados das nossas descobertas e das nossas hipóteses.”
A mentira, “segundo publicaram posteriormente os meios de comunicação”, teve origem “em Moncloa”, esclarece. “O 11 de março era quinta-feira e domingo havia eleições. Ao que parece, um dos assessores do Presidente Aznar disse-lhe: ‘Se foi a ETA, beneficiamos com isso; se foram os jiadistas ganhará o PSOE. A partir daí, começaram os comunicados adjudicando a autoria à ETA.”
Por ocasião da comissão de inquérito parlamentar ao caso, "instâncias superiores" pediram a Manzano que indicasse que a Tedax usou durante a investigação a palavra 'titadine', o tal dinamite associado à ETA. Assim, seria possível justificar o erro inicial. Manzano recusou: "Não era verdade. Não ia permitir que manchassem o prestígio da Tedax a nível nacional e internacional".
Esta segunda-feira assinalam-se os 15 anos do atentado terrorista em Madrid. Associações, políticos e cidadãos vão prestar homenagem às vítimas das bombas dos radicais. As cerimónias oficiais começaram às 9h30 na Puerta del Sol, no coração da capital espanhola.