Internacional

Responsáveis do Departamento de Justiça discutiram a possibilidade de remover Trump do cargo por incapacidade

As conversas, segundo um novo livro, tiveram lugar após a demissão do então diretor do FBI por Donald Trump, irritado por ele recusar protegê-lo das investigações sobre a sua campanha

Andrew McCabe
Alex Wong/Getty

Altos responsáveis do Departamento de Justiça norte-americano discutiram a possibilidade de remover Trump do cargo ao abrigo da 25ª Emenda da Constituição, que prevê essa possibilidade no caso de o presidente ficar incapacitado de exercer os seus deveres. A revelação consta do mais recente livro publicado por um ex-membro da administração Trump - uma obra que se intitula, significativamente, "A Ameaça: Como o FBI Protege a América na Era do Terror e de Trump".

Desta vez não é um simples assessor ou conselheiro, mas o ex-diretor adjunto do FBI. Andrew McCabe, que foi demitido pelo secretário da Justiça a 26 horas do momento em que poderia reclamar a sua pensão. Este gesto claramente vingativo terá sido em paga por aquilo que Trump e aliados dele consideraram deslealdade e falta de candura por parte de McCabe.

O livro agora escrito, que sai no dia 19 mas já foi lido por jornalistas de alguns meios e que deu pretexto para uma entrevista ao "60 Minutos" - excertos da qual passaram agora na TV antes da sua emissão no domingo - situa as conversas sobre uma eventual invocação da 25ª Emenda nos dias que se seguiram à demissão do então diretor do FBI, James Comey, por ele ter resistido à insistência de Trump no sentido de apoiar o presidente na investigação aos aparentes laços entre a sua campanha presidencial e o Kremlin.

A demissão de Comey começou por ser justificada com o seu comportamento em relação a Hillary Clinton - semana e meia antes das eleições em 2016, ele anunciou que tinha reaberto uma investigação sobre ela, contrariamente ao que é a política interna do Departamento de Justiça em períodos eleitorais. Mas logo na altura se percebeu que a explicação não fazia sentido.

“Uma veia de insanidade” na Casa Branca

Se o motivo fora aquele, porque não mudara Trump o diretor do FBI quando tomou posse? Ainda por cima, não tardou a saber-se que Trump, logo a seguir a demitir Comey, recebeu enviados de Vladimir Putin e manifestou-lhes o seu alívio por a demissão do diretor do FBI ter retirado um grande peso que recaía sobre ele, Um peso relacionado com as suspeitas sobre a Rússia.

Perante essas revelações, não houve outro remédio senão o de nomear um investigador especial para determinar exatamente as ligações da campanha de Trump à Rússia. Decisão que foi tomada pelo número 2 do Departamento de Justiça, Rod Rosenstein, e que enfureceu Trump até hoje.

Rosenstein é uma das figuras agora citadas por McCabe como tendo participado nas discussões desses dias críticos sobre o que fazer em relação a Trump. Confirmando uma história já antes publicada, McCabe diz que ele mencionou a possibilidade de levar um gravador oculto sempre que fosse falar com o presidente.

Rosenstein continua a negar, explicando que só poderia ter dito isso num sentido irónico ou sarcástico. Mas McCabe garante que nas conversas se chegou a discutir quantos ministros de Trump poderiam eventualmente apoiar uma tentativa de o destituir - dos quinze, seriam necessários pelo menos oito.

McCabe afirma que o presidnte introduziu "uma veia de insanidade" na Casa Branca. O presidente reagiu imediatamente no Twitter dizendo que o "pobre anjinho" McCabe era na verdade "uma grande parte do escândalo da Vigarista Hillary e da Fraude Russa". Chama-lhe "marioneta" de Comey e diz que ele é "uma vergonha para o FBI e para o nosso país".