Só passaram três dias desde que Julen, de dois anos, caiu num poço em Totalán, em Málaga, mas para o seu pai, José Rosello, já passou demasiado tempo. Mantém-se ainda assim otimista, não lhe resta outra hipótese, conforme afirmou esta quarta-feira aos jornalistas, junto ao local onde as autoridades acreditam que o menino desapareceu. “Temos esperança de que não esteja morto, embora nós já nos sintamos mortos. Parece que estamos aqui há meses”.
Neste momento são ainda mais as razões para acreditar, uma vez que, segundo um delegado do Governo de Andaluzia, Alfonso Rodríguez Gómez de Celis, foi encontrado cabelo entre o material sólido que foi extraído do poço que pertencerá a Julen, segundo revelou o teste de ADN efetuado. “Para muitos pode ter sido uma surpresa mas para nós, não. Há muito que sabíamos que ele estava aqui e sei que vou encontrar o meu filho com vida”, afirmou José Rosello aos jornalistas, aproveitando ainda para agradecer aos órgãos de comunicação, às equipas de resgate, à Guarda Civil e a todos aqueles que entretanto se disponibilizaram para ajudar a encontrar o seu filho. “Obrigada a todos aqueles que estão a trabalhar dia e noite, sem interrupções. Embora no início tenha sido complicado em termos de recursos, agora começo finalmente a ver um pouco de luz.”
Durante esta quarta-feira começaram a ser construídos dois túneis, um paralelo ao poço e outro oblíquo, para tentar chegar ao buraco - que tem apenas 25 cm de diâmetro e foi utilizado para prospecção e busca de água - junto à necrópole da Tumba Del Moro, local turístico em Málaga. Crê-se que é ali que Julen se encontra, a 80 metros de profundidade. Os trabalhos de resgate decorrem desde domingo, dia em que o menino de dois anos desapareceu, e neles participam cerca de 100 pessoas, incluindo uma equipa de oito especialistas em resgate em minas vindo das Astúrias e técnicos que estiveram envolvidos no resgate dos 33 mineiros no Chile, em 2010.
“Oxalá fosse impossível ter caído no poço”
Antes de falar aos jornalistas esta quarta-feira, José Rosello deu uma entrevista ao diário “Sur” em que afirmava, uma vez mais, não ter dúvidas de que o filho se encontra no referido poço. “Oxalá fosse impossível de facto ter caído ali, como houve quem dissesse”. E contou como tudo aconteceu: “Quando me apercebi, Julen estava a apenas 10 ou 15 metros do poço. A minha prima, que estava mais perto, começou a gritar para que alguém fosse buscá-lo, pois temia que ele tropeçasse, mas não tivemos tempo”. Julen caiu mesmo e o pai viu-o a cair no buraco.
Segundo José Rosello, havia apenas algumas pedras a tapar o buraco que o próprio acabou por retirar para que não caíssem sobre a criança lá em baixo. A versão da empresa responsável pela prospecção é diferente: o buraco estaria totalmente tapado com uma pedra grande, “tal como determina a legislação”.
Fontes do governo local da Andaluzia revelaram ao “El País” que a prospecção não era do conhecimento das autoridades responsáveis e foi feita, portanto, de forma ilegal.